Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Gigantes petroleiras estrangeiras, como Exxon Mobil (NYSE:XOM), Shell, BP e Chevron, foram os destaques nesta sexta-feira do último leilão de blocos exploratórios do pré-sal do governo Michel Temer, em uma rodada sob regime de partilha que teve a estatal Petrobras (SA:PETR4) como coadjuvante pela primeira vez.
Com a venda dos quatro blocos ofertados, o governo brasileiro arrecadou 6,8 bilhões de reais apenas em bônus de assinatura --nas rodadas sob partilha ganha a disputa quem oferta a maior parcela de óleo à União.
Entre as ganhadoras do leilão, que teve um ágio de 170,58 por cento, estiveram ainda a chinesa CNOOC, QPI do Qatar e a colombiana Ecopetrol, que levou pela primeira vez áreas no pré-sal sob regime de partilha.
A atuação da Petrobras --cujos representantes saíram sem dar entrevistas-- mais tímida foi avaliada por autoridades como positiva, porque mostra que o setor está menos dependente de uma só empresa.
Isso em meio a medidas regulatórias realizadas nos últimos dois anos para abrir o setor de petróleo a mais investidores internacionais, gerando maior concorrência.
"Esse processo que a gente viveu foi muito positivo porque mostra que não estamos na dependência de apenas uma única empresa, só da Petrobras... o setor de petróleo e gás do Brasil é muito maior do que a Petrobras, sem demérito à Petrobras...", afirmou à Reuters o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone.
Segundo cálculos de Oddone, desde setembro do ano passado, rodadas de partilha e de concessão trouxeram uma arrecadação total de aproximadamente 28 bilhões de reais em bônus de assinatura.
Ele estimou que, com os leilões desta sexta-feira, serão investidos no país em exploração e produção de petróleo cerca de 1,8 trilhão de reais, nos próximos dez anos, o que ajudará o país a se colocar entre os quatro maiores produtores de petróleo em meados da próxima década, dobrando sua extração.
Às vésperas da eleição, o clima na rodada foi permeado por discursos de autoridades e também declarações de investidores sobre a necessidade de se manter o caminho de reformas no setor de petróleo do Brasil, em busca de maior competição. A exceção foi um protesto de cerca de 20 pessoas, incluindo índios, que fizeram uma manifestação pacífica contra a realização da licitação.
O secretário-executivo de Minas e Energia, Márcio Félix, afirmou acreditar que o próximo governo não poderá abrir mão da realização de leilões para a atração de riquezas e também declarou que "o Brasil é bem maior que a Petrobras e a gente está descobrindo isso aí".
VENCEDORES
A Shell, empresa privada com maior produção no Brasil e forte presença no pré-sal, foi o grande destaque do leilão, arrematando como operadora 50 por cento de participação, em consórcio com a Chevron, o bloco Saturno, na Bacia de Santos. As empresas deram lance de 70,20 por cento de lucro em óleo para a União, com o maior ágio da rodada, de mais de 300 por cento.
"A Shell está no Brasil há 105 anos e já vivemos com muita volatilidade, e esse é um país que respeita contratos e a gente continua avançando nas nossas apostas no país", disse o presidente da Shell no Brasil, André Araujo, ao ser perguntado se empresa não temia os riscos políticos.
"O que a gente espera é que o próximo governo continue entendendo o papel que a indústria de óleo e gás traz para o país e mantendo regras cada vez mais claras e previsibilidade."
Já o consórcio formado por Exxon Mobil e QPI, do Catar, levou o bloco de Titã no pré-sal da Bacia de Santos, com lance de 23,49 por cento de excedente em óleo à União, versus percentual mínimo de 9,53 por cento --a norte-americana ficou como operadora do consórcio, com 64 por cento de participação.
"Estamos muito felizes, o desfecho dessa rodada, realmente, nesse último ano, foi excelente para a gente... passamos a ter 26 blocos no Brasil... Nós acreditamos no cronograma que a ANP está desenvolvendo, de ter licitações contínuas. Claro, vamos continuar avaliando cada licitação", disse a presidente da Exxon no Brasil, Carla Lacerda.
O consórcio formado pelas companhias BP Energy, Ecopetrol e CNOOC arrematou o bloco de Pau Brasil, também no pré-sal da Bacia de Santos, com lance de 63,79 por cento de excedente em óleo, versus percentual mínimo de 24,82 por cento.
A BP Energy, como operadora do consórcio vencedor, terá 50 de participação; Ecopetrol terá 20 por cento, e CNOOC, 30 por cento.
O presidente da BP Upstream na América Latina, Felipe Arbelaez, comemorou a estreia como operador em uma área do pré-sal sob regime de partilha de produção.
Ele disse ter ficado satisfeito após vencer o lance concorrente, feito por um consórcio formado pela Petrobras, em parceria com a CNODC e a Total (operadora), com uma pequena diferença entre os percentuais ofertados. O perdedor ofertou 62,40 por cento.
A Petrobras, conforme a lei para o pré-sal, poderia ter exercido o direito de ser operadora da área antes do leilão, mas não o fez.
Já a Petrobras arrematou o bloco Sudoeste de Tartaruga Verde, no pré-sal da Bacia de Campos. A petroleira estatal foi a única a dar lance pelo bloco, oferecendo o percentual mínimo de 10,01 por cento de excedente em óleo.
A estatal tem interesse na área por já contar com concessão em um bloco adjacente.
No leilão do pré-sal anterior, realizado em junho, a Petrobras havia reafirmado seu domínio no pré-sal ao bancar lances elevados que garantiram à companhia o status de operadora dos consórcios vencedores nos três blocos que foram negociados.
(Por Marta Nogueira, Rodrigo Viga Gaier, Alexandra Alper e Gabriel Stargardter)