Por Rodrigo Viga Gaier e Roberto Samora
RIO DE JANEIRO SÃO PAULO (Reuters) - A intensa volatilidade e os patamares elevados do petróleo em tempos de guerra na Ucrânia farão o Brasil depender mais das grandes empresas, como a própria Petrobras (SA:PETR4) e as três maiores distribuidoras, para importações de combustíveis, em um mercado externo muito "brigado" e que exige fôlego financeiro.
A concentração no mercado de combustíveis nas grandes companhias do Brasil, país que importou o equivalente a um quarto do total do diesel consumido em 2021, deve assim aumentar, com empresas como Vibra, Raízen e Ipiranga se beneficiando.
Na visão de especialistas ouvidos pela Reuters, isso gera preocupações do ponto de vista de consumidores, especialmente em momento de oferta mais apertada no exterior e preços mais altos.
Mas tanto Petrobras como Vibra Energia SA (SA:VBBR3), Raizen SA Preferred (SA:RAIZ4)e Ipiranga --as três distribuidoras respondem já por quase 70% das vendas de diesel do Brasil-- afirmam que tomaram medidas para garantir o abastecimento em momento de maior demanda dos clientes.
"Em tempos de guerra existe sempre a possibilidade de escassez, e dessa forma os grandes compradores tomam conta do mercado e o efeito colateral é o aumento de preço. Compradores menores acabam não tendo muita agilidade e/ou capital disponível para bancar", afirmou uma fonte do setor público especializada no segmento de combustíveis.
Antes da volatilidade gerada pela guerra, uma parte da oferta nacional, ainda que menor, era preenchida pelas companhias de médio e pequeno portes, especialmente quando viam paridade de preços internacionais com os da Petrobras.
Mas em um momento em que o mercado de petróleo tem oscilações diárias de cerca de 10% como nesta quinta-feira, o jogo se volta mesmo para as grandes companhias por conta da maior capacidade de realizar hedges e proteções cambiais.
Essas fortes oscilações em geral aumentam a defasagem na comparação com o combustível da Petrobras, o que torna os negócios inviáveis, especialmente para pequenos grupos.
Após a forte alta de 25% no preço do diesel da estatal na semana passada e uma queda expressiva das cotações no petróleo na véspera, houve possibilidade de importações, ainda que com margem pequena. Mas, com a alta do barril nesta quinta para mais de 100 dólares, os negócios ficaram inviáveis novamente.
"As janelas ficaram abertas para o diesel (importado) somente poucas horas", disse o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, Sérgio Araujo.
Ele ressaltou que o mercado volátil do petróleo Brent mostra que, apesar de ainda estar distante dos quase 140 dólares o barril vistos recentemente, não é hora de a Petrobras reduzir preços, conforme citou o presidente Jair Bolsonaro.
O Brasil ainda tem encontrado maior concorrência para comprar nos Estados Unidos, de onde importa a maior parte do diesel, uma vez que europeus buscam alternativas aos russos.
"De fato, nossos associados nos informaram que as cargas de diesel dos EUA estão sendo direcionadas para Europa... Além de subir os preços, está difícil encontrar produtos", disse Araujo.
MERCADO DEMANDANTE
Para o analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets, Heitor Paiva, não há produção no mundo capaz de compensar a redução da oferta russa, de quase 5 milhões de barris/dia, e o mercado só conseguiria responder com maior capacidade a partir do segundo semestre do ano que vem.
Ele também concordou que as grandes empresas do Brasil, por serem integradas, com maior capacidade de reduzir custos, deverão lidar melhor com a situação, que envolve até mesmo tradings "retendo diesel" na Europa, na expectativa de altas.
No Brasil, há relatos também de movimentos nervosos. "Na semana passada, o mercado estava muito apreensivo com aumento da Petrobras e guerra na Ucrânia. Todos os consumidores e revendedores queriam formar estoques. Houve aumento expressivo de demanda, e nessa hora há que se ter cautela", disse uma fonte do setor, lembrando da volatilidade das cotações globais.
"Normalmente, quando você está importando recebe mais de uma dezena de propostas; hoje recebe-se menos, o que prova que o mercado está sim mais competitivo", disse a fonte, na condição de anonimato, admitindo que as grandes distribuidoras "podem importar mais e vender também para os pequenos".
Procurada, a Vibra, que respondeu por quase cerca de 28% da distribuição de diesel no Brasil em 2021, disse que houve um "aquecimento da demanda frente ao histórico de pedidos planejados", mas que tem condições de atender os clientes.
A empresa disse ainda que, para os próximos meses, já reforçou suas aquisições, de modo que "não haverá risco de desabastecimento" aos clientes.
Já a Raizen, com quase 20% do mercado de diesel, disse que entende o momento "desafiador", mas que tem capacidade para seguir cumprindo os "contratos com os clientes". A empresa afirmou que poderá "importar o que for necessário para completar a oferta de gasolina e diesel para o mercado nacional."
A Ipiranga, com fatia próxima da Raízen, disse que trabalha de forma diligente para manter o abastecimento dos clientes.
Já a Petrobras reforçou que seus preços buscam o equilíbrio com o mercado internacional, mas evitando repassar volatilidades, "condição fundamental para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento pelos diferentes operadores".
Em artigo recente, o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa, disse que a empresa está produzindo o "máximo" em suas refinarias, "considerando as condições adequadas de produção, segurança, rentabilidade e logística".
(Por Roberto Samora e Rodrigo Viga Gaier)