Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - Para o mercado financeiro, a palavra que pode definir 2022 é volatilidade. Ainda não passou nem metade do ano e os investidores ao redor do mundo já precisaram administrar seus portfólios em meio ao choque nos preços e nas demandas, a uma guerra na Europa e ao aumento nos juros.
O índice MSCI World, que mede a performance das Bolsas no mundo, caiu 16,5% desde o início do ano, enquanto o índice S&P 500 nos EUA acumula queda de 15,5% no ano. O S&P 500 está caindo há seis semanas seguidas e tem o seu pior início de ano desde 1939.
A renda fixa tão pouco se salva. Por exemplo, o ETF que investe em títulos do Tesouro americano acima de 20 anos de prazo (:TLT) já caiu 21% este ano, dada a forte alta de juros nos EUA.
Para os próximos meses, ainda há os temores de uma inflação persistente e o fantasma da recessão na economia. No Brasil, ainda há o agravante das eleições em outubro, que prometem ser polarizadas e trazer para a mesa mais discussões sobre as políticas econômicas do país.
Por que tanta volatilidade?
Nos últimos anos, os Bancos Centrais ao redor do mundo injetaram liquidez nas economias, com a queda nos juros, especialmente durante os lockdowns da pandemia de coronavírus, como uma forma de salvar os mercados.
Como efeito colateral, isso resultou na maior inflação em 40 anos nas economias desenvolvidas, o que obriga os BCs a aumentarem os juros para tentar controlar a alta nos preços.
“Isso não será uma tarefa fácil. A deflação da economia passará inevitavelmente por juros mais altos, que levarão à contração de demanda, desaceleração econômica e aperto nas condições financeiras. Ou seja, o risco de recessão econômica é real”, explica a XP (SA:XPBR31) em relatório divulgado na última segunda-feira (15).
Dessa forma, o mercado está precificando um cenário de juros maiores por mais tempo, inflação ainda alta e um risco de recessão cada vez maior. “Soma-se a esse cenário uma guerra, o choque de preços nas commodities e a disrupção nas cadeias de logística e suprimento por conta dos lockdowns na China, e assim temos essas fracas performances no mercado de ações e renda fixa”, afirma a XP.
O índice americano VIX, conhecido como o índice do “medo”, está em uma média de 27,5 neste ano. A XP aponta que esse patamar é quase 10 pontos porcentuais acima da média dos últimos 10 anos, de 17,8.
“Isso é um sinal claro que os investidores estão mais cautelosos em relação ao futuro, e com um grau de incerteza maior, demandando mais opções para proteger as suas carteiras”, diz a XP.
E o Brasil?
Ao olhar para o mercado nacional, o Brasil segue na contramão desse cenário mais pessimista. A XP afirma que o desempenho brasileiro não é incrível, mas é melhor do que acontece lá fora. Desde o começo do ano, o Ibovespa acumula uma alta de 13% em dólares e de 2% em reais.
Isso acontece, segundo a XP, por causa de três fatores principais:
- O primeiro é motivado pela grande participação de commodities e bancos no país. Esses dois setores representam 66% da bolsa brasileira e ambos são protegidos contra a alta dos juros e da inflação.
- Além disso, “os ativos brasileiros seguem muito baratos, negociando com um forte desconto em relação às médias históricas. A Bolsa brasileira está atualmente negociando a 6,8x Lucro esperado para os próximos 12 meses, um desconto de 42% em relação à média histórica de 11,7x nos últimos 10 anos”, indica a XP como o segundo pilar que sustenta a alta do Ibovespa.
- Por fim, o Banco Central do Brasil largou na frente na trajetória de alta na taxa dos juros. Hoje, a taxa Selic se encontra em 12,75% e os juros reais futuros (IPCA+) estão em 5,75%.
“Isso faz com que o Brasil passe a atrair fluxo de investidores para o mercado de renda fixa. Além disso, as altas taxas de juros também ajudam a fortalecer o real em relação ao dólar”, explica a XP. No ano, o real já apreciou 9,3%, tendo a 2ª melhor performance entre todas as moedas emergentes.
Como lidar com a volatilidade?
Administrar a carteira em meio a esse cenário de alta volatilidade pode ser um tanto complicado. Por isso, a XP recomenda que o investidor tome cuidado com a alavancagem e mantenha caixa, para cobrir uma emergência e aproveitar possíveis oportunidades que podem aparecer no meio do caminho.
Além disso, é preciso tomar cuidado com ativos que “caem demais”, pois eles exigem uma análise mais aprofundada para entender a razão da queda por trás do mau humor generalizado do mercado. A XP também alerta para os “ralis de bear market”, porque é às vezes uma breve recuperação dos ativos, mas não significa que o mercado chegou ao seu fundo e está pronto para reverter a sua tendência.
A XP defende que no momento o ideal é manter a calma, focar na estratégia de longo prazo e procurar por produtos que tragam alguma proteção contra as perdas. A ideia é procurar por ativos de qualidade, que em meio a queda podem chegar a preços interessantes para quem está montando uma carteira de longo prazo.