Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) -O governo de Minas Gerais avalia transformar a Cemig (BVMF:CMIG4) em uma "corporation" (empresa sem controlador definido) antes de um eventual processo de federalização da companhia, no âmbito da renegociação de dívidas do Estado com a União, disse nesta terça-feira o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Fernando Passalio.
Em reunião anual com investidores e analistas da Cemig, Passalio afirmou que o processo, se conduzido dessa forma, permitiria manter uma gestão mais eficiente da Cemig e, ao mesmo tempo, repassar à União ações de uma empresa mais valorizada.
"Uma outra opção que está sendo aventada, e que a gente vê com muito bons olhos, é a transformação da Cemig em uma corporation", disse o secretário.
"Vamos colocar em um cenário hipotético, se nós fizéssemos a federalização depois de ela ser uma corporation. Todo o discurso que fiz aqui, de manter uma gestão mais técnica, ele será assegurado, uma vez que no controle difuso da corporation a gente passa a ter a União detendo as ações --acredito que até mais valorizadas --, a gente faz um abatimento até maior da dívida, e a Cemig continua dando esse 'show'", explicou.
A transformação em corporation foi o caminho realizado pela Eletrobras (BVMF:ELET3) em seu processo de privatização em 2022, pelo qual a União deixou de ser controladora por meio de uma oferta de ações em bolsa que diluiu sua participação na companhia.
O secretário de Minas Gerais afirmou ainda que o Estado vê com bons olhos a federalização da Cemig, mas lembrou que, mesmo se confirmado, o processo ainda teria um longo caminho para percorrer. A federalização, assim como a transformação em corporation, exigiriam aprovação do legislativo estadual.
"A gente vê com bons olhos, no sentido de que existe uma dívida muito grande... O governador sempre dá o exemplo de que o Estado não pode ser o vizinho endividado com 5 BMWs na garagem, temos que ser responsáveis com as contas públicas".
Passalio ponderou, porém, que atuais direitos de "tag along" dos demais acionistas da Cemig poderiam desestimular o governo federal a assumir o controle da Cemig, uma vez que isso implicaria o pagamento pela União de valores elevados nesse processo.
"A gente não tem ainda essa página dois sendo construída, a federalização depende muito disso, dos valuations que serão feitos, se chegar nessa etapa".
Ainda no evento, o presidente do conselho de administração da Cemig, Márcio Luiz Simões Utsch, defendeu que o governo mineiro deveria "ir atrás" da ideia de privatização da companhia de energia, um movimento que ele considera importante para destravar valor para a empresa.
"Ele (Romeu Zema, governador de MG) já falou isso várias vezes, e nós que estamos na Cemig concordamos com ele, se não concordássemos não estaríamos lá... Se não quero (privatizar) e estou lá, o que estou fazendo? Estou perdendo meu tempo. Nós queremos também, achamos que é uma boa saída", disse o executivo.
"É um ponto importante para quem investe na Cemig saber que há realmente essa visão de longo prazo, a gente tem que ir atrás dessa ideia (de privatização), porque é realmente importante e pode ainda destravar mais valor para a companhia", acrescentou.
(Por Letícia Fucuchima, em São Paulo; edição de Marta Nogueira e Roberto Samora)