SÃO PAULO (Reuters) - A produção de açúcar do centro-sul do Brasil recuou 30% na primeira quinzena de maio, para 1,668 milhão de toneladas, expressando uma redução na moagem de cana por menos unidades em operação até o momento e uma maior destinação da matéria-prima para a fabricação de etanol, afirmou a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) nesta quarta-feira.
A moagem de cana do centro-sul diminuiu 17% na primeira quinzena de maio, para 34,37 milhões de toneladas, na comparação anual, segundo a associação do setor no centro-sul. O volume veio abaixo da expectativa de pesquisa da S&P Global Commodity Insights, que esperava 35,6 milhões de toneladas.
Já a quantidade de cana para fabricação de etanol avançou para 59,23% na primeira parte do mês, versus 54% no mesmo período da safra passada.
Assim, a produção do combustível somou 1,655 bilhão de litros, queda de 10% na comparação anual.
No acumulado da safra desde 1º de abril, a fabricação do adoçante totalizou 2,74 milhões de toneladas, queda de 1,81 milhão ante o mesmo período de 2021.
Segundo o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, além da queda da moagem, a redução é decorrência da "decisão das próprias usinas de alterarem seu mix de produção em favor do etanol".
"Com isso, 597,1 milhões de toneladas de açúcar deixaram de ser fabricadas até o momento para que uma maior produção de álcool pudesse ser viabilizada", destacou.
Até o dia 16 de maio, 232 unidades operaram, frente a 236 unidades no mesmo período do ciclo 2021/2022. Para a segunda quinzena de maio, outras 17 unidades devem iniciar a moagem no centro-sul, segundo a Unica.
A associação ainda citou dados do Centro de Tecnologia Canavieira, que apontaram produtividade média de 71,6 toneladas por hectare no início da safra, o que representa uma queda de 1,3% no rendimento agrícola.
Já a qualidade da matéria-prima colhida na primeira metade de maio apresentou retração de 4,95% na comparação com o mesmo período do último ciclo agrícola, a 124,95 kg de ATR por tonelada colhida.
Etanol e importação
Na primeira quinzena de maio deste ano, as unidades produtoras do centro-sul comercializaram 990,82 milhões de litros de etanol, o que representa uma retração de 17,27% em relação ao mesmo período da safra 2021/2022, com algum impacto de importações que estão chegando ao Brasil.
No mercado interno, o volume de etanol hidratado comercializado foi de 605,58 milhões de litros, queda de 24,31% em relação ciclo anterior. As vendas domésticas de etanol anidro (misturado à gasolina) totalizaram 363,92 milhões de litros na quinzena, invertendo a tendência do mês de abril e registrando uma queda de 4,85% na comparação com 2021.
O diretor da Unica disse que "a queda no volume comercializado de etanol anidro é consequência da maior importação para o mês de maio que, conforme alguns line-ups, deve ultrapassar 120 milhões de litros".
Quanto ao etanol hidratado, ele disse que "parece que está ocorrendo um ajuste nos estoques operacionais das distribuidoras".
"Após a contração do mercado no mês de abril, conforme divulgação realizada pela ANP, não houve a necessidade de manter um ritmo aquecido na compra do produto dos produtores”.
Desde o início da safra 2022/2023, as unidades produtoras comercializaram 3,21 bilhões de litros de etanol, o que representa uma queda de 4,32% em relação ao mesmo período da safra anterior.
(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Gabriel Araujo)