Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil nunca produziu tanto etanol quanto na atual temporada, atingindo uma máxima histórica de cerca de 35 bilhões de litros, mas ainda assim os estoques disponíveis podem não ser suficientes para atender aos atuais níveis de demanda durante o período de entressafra.
A fabricação de etanol é interrompida em meados de dezembro no centro-sul do Brasil, principal região produtora do país, sendo retomada apenas por volta de abril, quando as usinas começam o processamento de cana-de-açúcar da nova temporada. Durante esse período, o mercado é basicamente atendido por estoques, importações e pela produção da região Nordeste, que é muito menor.
"Nesse ritmo de consumo, não acho que tenha estoque. Não está muito confortável, não... (Pode haver aperto) em fevereiro e março", disse Matheus Costa, analista de açúcar e etanol da corretora INTL FCStone.
Neste ano, tanto produção quanto demanda apresentaram recordes no Brasil. Em outubro, as vendas mensais de etanol hidratado no centro-sul superaram os 2 bilhões de litros pela primeira vez na história, com proprietários de carros flex ampliando o consumo do biocombustível, mais barato, para escapar dos altos preços da gasolina.
Michael McDougall, diretor-gerente da corretora de futuros Paragon Global Markets, de Nova York, vê a disponibilidade no centro-sul brasileiro, até março, em 7,62 bilhões de litros.
Isso, segundo ele, não seria suficiente para manter os atuais níveis de demanda, de cerca de 2 bilhões de litros de etanol hidratado por mês.
"Obviamente não conseguimos sobreviver com estoque zero. O preço terá que subir (e já está subindo) para diminuir o consumo", disse McDougall em nota a clientes.
De fato, neste mês os preços do etanol hidratado em São Paulo superaram pela primeira vez na história os 2 reais por litro, considerando o combustível na usina (sem impostos), de acordo com o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).
A consultoria de etanol e açúcar JOB Economia vê os estoques de passagem ao final da temporada, em março, em níveis semelhantes aos registrados na temporada anterior, de cerca de 2,8 bilhões de litros, considerando etanol hidratado e anidro.
Sócio-diretor da JOB, Julio Maria Borges concorda que os preços vão subir para que a demanda diminua --e, assim, haja etanol suficiente no mercado até a próxima temporada de moagem.
Ele também afirmou que a janela de importação está aberta para o etanol dos Estados Unidos.
"As importações de etanol isentas de imposto de 20% em volume de 750 milhões de litros vão acontecer certamente", disse, acrescentando que a partir de fevereiro é provável que o Nordeste também importe etanol para além da cota, com impostos de 20%, em volume de cerca de 300 milhões de litros.