O Conselho de Administração da Vale (BVMF:VALE3) elegeu na 2ª feira (26.ago.2024) o atual vice-presidente financeiro da mineradora, Gustavo Pimenta, 46 anos, como novo CEO a partir de 2025. Ele substituirá Eduardo Bartolomeo, 60 anos, que deixaria a presidência em maio mas teve o mandato estendido parcialmente até 31 de dezembro deste ano.
A decisão do Conselho de Administração foi unânime. Pimenta foi chancelado inclusive pelos integrantes do colegiado ligados ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Gustavo Pimenta tem mais de 20 anos de experiência no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, nos setores financeiro e de energia e mineração, segundo o comunicado da Vale.
Eis um histórico da carreira:
- vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale. Desde 2021;
- responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia & Descarbonização da Vale;
- CFO (diretor financeiro) global, diretor de Planejamento e Estratégia e vice-presidente de Performance e Serviços da AES, Ficou 12 anos na companhia; e
- vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup (NYSE:C) em Nova York (EUA).
O próximo presidente da Vale tem mestrado em finanças e economia pela FGV (Fundação Getulio Vargas). É formado em economia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Em comunicado, o presidente do Conselho de Administração da Vale, Daniel Stieler, disse que Pimenta “reúne as competências necessárias para que possamos aspirar um novo ciclo virtuoso para a companhia, orientado por nosso propósito, e com grande potencial de geração de valor a todos os nossos públicos de relacionamento”.
O futuro CEO da Vale, ao agradecer a eleição pelo conselho, defendeu “intensificar o diálogo” com os stakeholders e priorizar “a segurança das pessoas, das operações e do meio ambiente”. A companhia tenta encerrar processos judiciais pelo rompimento da barragem de Mariana (MG), em 2015.
“Tenho certeza de que seguiremos avançando em nossa missão, com foco em geração e distribuição de valor, elevando a Vale a patamares ainda mais altos”, afirmou Pimenta.
O imbróglio da sucessão
A escolha do novo CEO coloca fim ao conturbado processo de sucessão de Bartolomeo, que contou com a interferência do Palácio do Planalto –que sai parcialmente derrotado.
O governo pressionou diretamente para emplacar um aliado como novo presidente da Vale. O Planalto queria o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no cargo, mas o nome enfrentou resistência entre o quadro societário.
Depois da investida política, a Vale reforçou a governança e conduziu o processo de forma independente. A consultoria internacional Russell Reynolds, sediada nos Estados Unidos, foi contratada como assessora do processo e entregou ao Conselho de Administração uma lista de 15 possíveis nomes para a seleção do novo presidente da mineradora.
O nome de Pimenta não estava na relação, que tinha apenas opções externas. No entanto, havia a possibilidade de ser incluído uma indicação interna. E 2 disputaram essa vaga: Gustavo Pimenta e o vice-presidente de minério de ferro, Marcelo Spinelli.
Na votação de 2ª feira, o conselho apreciou uma lista tríplice formada pelos nomes de Pimenta e outros 2 externos, mas ligados ao setor de mineração: Ruben Fernandes (Anglo American (JO:AGLJ)) e Marcelo Bastos (ex-BHP e ex-Vale). O 1º saiu vencedor.
Nenhum deles era o nome dos sonhos do governo. Lula desejava alguém de confiança para a mineradora. Com o discurso de que a Vale precisa atender aos anseios do governo e do país, o presidente almejava que a empresa seguisse o mesmo caminho da Petrobras (BVMF:PETR4) na atual gestão do petista, para ampliar investimentos no Brasil e induzir o crescimento da economia.
A visão de Lula sempre foi essa. O petista sempre se mostrou inconformado pela privatização da companhia no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A diferença é que, em seus 2 primeiros mandatos, o atual presidente tinha mais meios de intervir na Vale em função da participação de estatais na composição acionária da mineradora, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e fundos de pensão federais.
Só que o cenário agora é outro. A Vale passou por um 2º processo de privatização no governo de Jair Bolsonaro (PL). O então ministro da Economia, Paulo Guedes, reduziu a participação do governo nas ações da mineradora de 26,5% para 8,6%. A Vale, assim, se tornou uma corporation, ou seja, uma empresa de controle privado, com capital diluído no mercado.
Foi por isso que Lula saiu fracassado de sua investida sobre a Vale neste mandato. O governo articulou para emplacar Mantega na empresa, mas acabou fazendo um recuo tático diante da resistência dos acionistas privados e a reação negativa do mercado.
SAÍDA DE BARTOLOMEO
A Vale informou que Eduardo Bartolomeo seguirá como presidente até 31 de dezembro de 2024 e apoiará a transição a Gustavo Pimenta até 28 de fevereiro de 2025.
Depois, o atual presidente atuará como consultor da empresa até o final de 2025.