NOVA YORK/SÃO PAULO (Reuters) - A Raízen, uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, declarou força maior em contratos de compra de etanol de usinas locais, em um mercado impactado pelos efeitos do coronavírus, enquanto a BR Distribuidora (SA:BRDT3), a maior do setor, disse que identificou a necessidade de flexibilizar volumes.
A Raízen confirmou informações de fontes do mercado, que relataram mais cedo o movimento.
A empresa, joint-venture 50-50 entre Cosan (SA:CSAN3) e Shell, enviou uma carta a todos seus fornecedores de etanol na última sexta-feira afirmando que não vai cumprir contratos para compra de etanol devido à queda no consumo de combustíveis no Brasil, causada pelo isolamento relacionado à pandemia de coronavírus, afirmaram as fontes.
"Em razão da queda na demanda por combustíveis verificada por conta das medidas de 'lockdown' para combate à pandemia de coronavírus, a Raízen começou a sinalizar aos seus fornecedores de etanol a necessidade de revisão dos volumes originalmente programados", disse a companhia, em nota à Reuters.
A Raízen, além de distribuidora de combustíveis, também tem uma divisão que atua na produção de etanol, açúcar e bioenergia.
"Embora ainda não estejam claros, neste momento, todos os impactos que esta crise trará para as suas operações, a Raízen está focada em fortalecer suas parcerias estratégicas com fornecedores de etanol", acrescentou.
"Neste sentido, optamos, como outras empresas do setor, por dar a notícia sobre o evento de força maior em curso o quanto antes possível, de maneira a permitir que os fornecedores possam planejar suas operações com base nisso."
"Nós recebemos a carta", disse um corretor de São Paulo que pediu para não ser identificado, uma vez que as negociações são privadas.
Ele afirmou que o mercado de etanol no Brasil está desordenado em meio ao isolamento, com apenas alguns negócios ocorrendo, uma grande diferença entre as ofertas das usinas e das distribuidoras, e muita incerteza para os próximos dias.
"A pandemia levou a uma queda imediata e expressiva da demanda pelos produtos comercializados pela Raízen em todo país, caracterizando-se, portanto, como um evento de força maior... A Raízen se vê impedida de cumprir com as obrigações decorrentes dos contratos", aponta uma carta enviada pela empresa, a qual a Reuters teve acesso.
"Não iremos retirar a integralidade dos volumes apontados para o mês de março, bem como faremos a revisão dos volumes aplicáveis aos meses subsequentes que forem necessários para a compatibilização das compras da Raízen com a efetiva demanda do mercado pelos seus produtos", completou a companhia.
A notícia foi divulgada inicialmente pela Bloomberg.
BR
Já a BR Distribuidora afirmou, após ser procurada, que o cenário atípico fez com que a companhia identificasse a "necessidade de flexibilizar o percentual de variação de volume assegurado em contrato até que todo o mercado se normalize".
Mas, ressaltou a empresa, isso não representa cancelamento de contratos de etanol.
O movimento da BR visa "somente reduzir o volume mensal de aquisição em percentual superior ao previsto em contrato, sem que isso implique em descumprimento do mesmo".
"Ressalta-se ainda que contratualmente há uma cláusula que exclui a responsabilidade das partes contratantes em caso fortuito ou de força maior."
Paralelamente, a BR disse que também tomou algumas medidas junto a sua revenda, prorrogando, por exemplo, o prazo para cumprimento do volume contratado, "entendendo que o momento é de espírito colaborativo, unindo forças para minimizar o impacto da crise em todos os atores envolvidos".
(Reportagem de Marcelo Teixeira e Roberto Samora)