Ausência das bolsas americanas e renovadas preocupações com o desaquecimento da China, na esteira de novas medidas restritivas conta a covid-19 em duas regiões do país deixam o Ibovespa na defensiva. Além disso, a liquidez que já anda reduzida por aqui pode ficar ainda menor com o fechamento dos mercados de ações dos Estados Unidos, onde celebra-se o Dia da Independência, e em numa segunda-feira de agenda esvaziada, que ganhará força ao longo da semana.
Mais cedo, o Ibovespa reduzia o ritmo de queda, mas sem forças para ao menos recuperar o nível dos 99 mil pontos. Sem as bolsas americanas, a segunda-feira é marcada por alguns pontos negativos e positivos, destaca Celso Fonseca, sócio e head de renda variável da Venice Investimentos. "A queda do minério de ferro pesa na Vale (BVMF:VALE3) e demais ações do setor. Em compensação, as bolsas europeias sobem após PPI inflação ao produtor da zona do euro em maio em linha com o esperado. Algumas da Ásia também subiram", avalia.
Além do externo, cita Fonseca, o mercado monitora as preocupações com o político. "Até quinta pode ser votada a PEC dos Benefícios e está todo mundo preocupado com o fiscal. Na sexta, tem IPCA de junho, quando também sairá o payroll nos EUA. Tudo isso deixa a Bolsa meio de lado", afirma Fonseca.
Além da alta das bolsas europeias, a valorização em torno de 1% do petróleo limita a queda do índice Bovespa, após interromper três pregões de baixa. Na sexta-feira, subiu 0,42%, aos 98.953,90 pontos. Às 11h05 desta segunda, cedia 0,26%, aos 98.695,92 pontos. Na mínima intradia marcou 98.264,28 pontos (-0,70%).
"Não deveria perder a faixa dos 98 mil pontos", diz o economista Álvaro Bandeira e consultor de Finanças, indicando que se isso acontecer pode abrir espaço para novas quedas. "Contudo, a queda do minério de ferro deve pesar na Vale", acrescenta Bandeira.
O recuo de quase 6% nas cotações da commodity no mercado futuro em Dalian e de 4,41% no porto chinês de Qingdao influencia negativamente não só os papéis da mineradora, mas de todo o segmento na B3 (BVMF:B3SA3), bem como o próprio índice Bovespa.
A desvalorização vem após a China anunciar que os mais de 1,7 milhão de habitantes de duas regiões na província de Anhui entraram em lockdown. É mais uma evidência de que o país asiático não pretende abandonar a rígida estratégia de combate ao coronavírus, que tem sido chamada de "tolerância zero". Já a França voltou a recomendar uso de máscaras, mas evita obrigatoriedade.
Se de um lado as decisões podem atenuar o avanço mundial da inflação, tendem a elevar preocupações com desaquecimento não só da China, mas global, subindo a possibilidade de recessão em países como os Estados Unidos.
O investidor local ainda acompanha os desdobramentos da PEC dos Benefícios. Na semana passada, a proposta foi aprovada pelo Senado, com ampliação de benefícios e de novas despesas, totalizando R$ 41,2 bilhões fora do teto de gastos. O receio é de que outras medidas sejam incluídas pelos deputados, elevando o risco fiscal do governo Bolsonaro a menos de três meses das eleições no País.
Nesta segunda-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se reunirá com líderes partidários para acertar os detalhes do texto da PEC. Na sexta, Lira assinou o despacho para juntar a pacote a fim de que a tramitação da PEC seja mais rápida.
"Iniciamos a semana focados na PEC das bondades eleitorais na Câmara", cita em nota a Mirae Asset, acrescentando que a proposta deve ser aprovada esta semana na Casa. "Problema maior acontece no próximo governo, já que os benefícios sociais vencem no fim deste ano." Conforme a Mirae, o temor é de muitas medidas na PEC se tornem permanentes, elevando os riscos fiscais.