Investing.com - Em um cenário de redução da taxa de juros, que é replicado em todo o mundo, e com a inflação sob controle, o próximo passado para que o Brasil volte a ser atrativo para investimentos que levem ao desenvolvimento é a aprovação da Reforma Tributária. Essa é a opinião de Ana Paula Vescovi, chefe do departamento de macroeconomia do Santander Brasil (SA:SANB11) e ex-secretária-executiva do Ministério da Fazenda. A declaração foi dada durante a Exame Fórum 2019, que acontece em São Paulo nesta segunda-feira.
“Já está claro que só juros baixos não traz crescimento. É preciso de confiança, quem quer investir no país precisa de segurança jurídica, que vai melhorar o ambiente de negócios. O atual sistema leva a muitos litígios tributários”, disse a executiva durante o evento.
Como exemplo, Ana Paula citou as incertezas em relação aos marcos regulatórios, em especial do saneamento, que, por falta de segurança jurídica, impede novos investimentos em uma área tão carente para a população brasileira.
A executiva destacou também que o país precisa crescer por seus próprios esforços, uma vez que não temos um novo boom de commodities, como no passado. Para ela, apesar do mundo bastante agitado, com guerra comercial, o Brasil se diferencia por ter uma baixa vulnerabilidade externa.
“Temos um Banco Central que atua muito bem e um ótimo nível de reservas internacionais. Além disso, a nossa dívida pública é quase toda financiada no Brasil, deixando a gente menos exposto a choques externos. Os problemas do país foram criados por nós, e é a gente que tem que resolver tudo isso, resolvendo as questões sociais, com desenvolvimento sustentável, com respeito ao meio ambiente. Isso virá de uma reforma profunda do estado brasileiro”, disse a Ana Paula.
Lei do teto
Uma das responsáveis pela criação da Lei do Teto dos Gastos, na época que integrava a equipe econômica do governo de Michel Temer, Ana Paula defende o limite, esclarecendo que o aumento do gasto público não trouxe crescimento, só levou ao aumento do endividamento.
“Flexibilizar os gastos só vai tirar segurança jurídica, aumentar a pressão por aumento de impostos e pressionar a inflação. Esse não é o melhor caminho, já que o teto é a régua, o gasto tem que ser limitado pela própria condição da economia. A reforma da Previdência é o primeiro passo nesse sentido”, disse a executiva.
A chefe do departamento de macroeconomia do Santander (SA:SANB11) defendeu ainda a necessidade de mudar a forma de contratar e remunerar o serviço público. Ela explica que não é questão de perseguição, mas sim um alinhamento para que eles atuem para a sociedade. Para isso, a forma de progressão de carreira deve ser clara.
“O conceito de estabilidade é mundial e se presta a blindar o servidor publico no exercício da função. Não há necessidade de ter essas regras se existem profissionais com as mesmas características e atuação na iniciativa privada. Médico e professores existem no setor privado, mas não temos policiais, fiscal da receita. É importante relativizar”, disse Ana Paula.
Ana Paula foi anunciada pelo banco espanhol em fevereiro, para liderar as atividades dos departamentos de economia do Santander (SA:SANB11) Corporate Investment Banking (SCIB) e CFO que passam a fazer parte de uma única área, reportando-se diretamente ao Vice-presidente Executivo e CFO Angel Santodomingo.
Economista, a capixaba foi secretária do Tesouro e secretária-executiva do Ministério da Fazenda no governo de Michel Temer.
Antes de assumir cargos no governo federal, a economista já havia atuado como secretária da Fazenda do Espírito Santo, Presidente do Conselho de Administração do Instituto de Resseguros do Brasil, entre outros importantes cargos no Executivo e Legislativo, nas esferas Estadual e Federal.
O evento
O EXAME Fórum 2019 acontece nesta segunda-feira em São Paulo, reunindo algumas das principais lideranças da política, da economia e dos negócios do país para debater como recuperar o foco no desenvolvimento.
Entre os temas que serão abordados durante o encontro estão os desafios da segurança pública, a renovação na política, as perspectivas econômicas, a recuperação dos estados e os próximos passos para o Brasil avançar.