A Livraria Saraiva (BVMF:SLED4) deu aquele que pode ser o último passo para se despedir de sua recuperação judicial, que já dura cerca de quatro anos. Dessa vez, conseguiu aprovar junto a uma parte de seus credores a conversão de sua dívida em ações. Tal processo, depois de finalizado, transformará a empresa, fundada há mais de 100 anos pela família Saraiva, em uma companhia de capital pulverizado na Bolsa. Ou seja, sem controle definido.
Em junho, a companhia já tinha feito um movimento relevante na tentativa de se reerguer: vendeu o ponto de uma loja no Shopping Ibirapuera, em São Paulo, hoje alugada pela varejista Centauro (BVMF:SBFG3), além de créditos tributários repassados a um fundo pertencente ao BTG Pactual (BVMF:BPAC11) - com o que conseguiu abater uma parte relevante de sua dívida.
Na proposta de conversão de seus débitos, a Saraiva transformará R$ 163 milhões em ações, amortecendo os efeitos do endividamento em seu balanço, que ainda ficará com cerca de R$ 300 milhões em dívidas dentro do processo de recuperação judicial - menos da metade do valor com que a rede iniciou o ano. Os credores que não aceitaram a conversão começarão a ser pagos em 2026.
Para não haver pressão nas ações da Saraiva na Bolsa, o acordo estabeleceu um período de bloqueio para a venda dos papéis da rede de livrarias no mercado, conforme fontes. Agora, a expectativa é de que a mesma proposta seja direcionada aos credores de fora da recuperação judicial, o que envolve um montante de aproximadamente R$ 60 milhões. Hoje, aproximadamente 90% das dívidas trabalhistas da empresa já foram pagas.
Internamente, o processo de conversão da dívida encaminha a empresa para sua saída da recuperação judicial, apesar de alguns credores ainda defenderem a manutenção desse status para se acompanhar o pagamento da dívida. Há agora a expectativa de que a despedida desse processo possa ocorrer em um prazo de três a seis meses.
Retomada
Na Saraiva, o clima é de ganho de fôlego e os planos voltam a mirar crescimento. Conforme apurou o Estadão, já estão na mesa planos de crescimento - algo impensável para a empresa ao longo dos últimos anos - para ganho de mais fluxo de caixa. Mais recentemente, as lojas da rede passaram a organizar eventos, como leituras para crianças, para atrair público de volta para a livraria.
No último relatório divulgado nos autos do processo, o administrador judicial, a RV3, informou que a Saraiva registrou um prejuízo de R$ 22 milhões de janeiro a maio deste ano, valor menor do que os R$ 37 milhões de perdas no mesmo intervalo do ano passado.
De acordo com o mais recente resultado da empresa, referente a março, a Saraiva tinha 34 lojas. No início de 2017, um ano antes da recuperação judicial, eram 113 unidades. A mineira Leitura, que assumiu algumas lojas que anteriormente eram da Saraiva, é hoje a líder do setor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.