Por Claudia Violante Luiz Guilherme Gerbelli
São Paulo (Reuters) - A eventual vitória do republicano Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, na terça-feira, traria uma série de consequências negativas para a economia brasileira, como saída de capital, prejuízos para o comércio exterior e redução do crescimento econômico.
Especialistas consultados pela Reuters afirmaram ser difícil fazer previsões quantitativas sobre esse cenário, mas foram unânimes ao afirmar que as consequências poderiam ser desastrosas, incluindo para os mercados financeiros, diante do perfil impulsivo e imprevisível de Trump, que já falou que tomaria diversas ações radicais se chegar à Casa Branca.
"Já a partir de 2017 o crescimento brasileiro seria abalado porque o Brasil seria atingindo por vários canais. Além do menor crescimento dos Estados Unidos, a China deve desacelerar e a confiança seria abalada", afirmou a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.
O risco de vitória de Trump tinha ficado para trás até que há 10 dias o FBI avisou o Congresso dos EUA sobre nova investigação de e-mails da candidata democrata Hillary Clinton relacionados com o uso de um servidor pessoal quando era secretária de Estado, acirrando novamente a disputa.
Com esses temores, o Brasil poderia ter maior dificuldade no processo de ajuste fiscal, por conta do baque econômico que o mundo sofreria. Com Trump na Presidência, os EUA devem crescer menos no ano que vem, puxando para baixo o mundo e dificultando a recuperação esperada para a economia brasileira e, consequentemente, gerando menos receitas.
Em 2017, os analistas esperam leve avanço para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de 1,2 por cento, segundo o relatório semanal do Banco Central, que ouve uma centena de economistas. Para 2016, espera-se retração de 3,31 por cento.
Outro efeito seria o comércio mundial. Trump já deixou claro que poderia tornar a economia norte-americana mais fechada, criando mal-estar ao afirmar que quer expulsar imigrantes ilegais do pais, notadamente latinos.
"A eleição do Trump teria um impacto sobre o comércio mundial como um todo. A cotação das commodities deve cair e o Brasil teria mais dificuldade para exportar manufaturados", afirmou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Do total exportado pela economia brasileira para os Estados Unidos, 65 por cento são de produtos manufaturados, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Os norte-americanos são o segundo maior importador do Brasil, somente atrás da China. De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou 18,819 bilhões de dólares, ou 12,3 por cento do total, para os EUA.
No fim de outubro, o economista-chefe do banco Itaú (SA:ITUB4), Mario Mesquita, classificou eventual vitória de Trump como "complicada" para a economia mundial. A maior preocupação está justamente no risco de o republicano optar por fechar a economia norte-americana, o que dificultaria a recuperação do já combalido comércio internacional.
"Os poderes do presidente dos Estados Unidos são muito assimétricos. Para abrir a economia, ele precisa do apoio do Congresso, mas, para fechar, ele pode decidir de forma autocrática", disse Mesquita.
AVERSÃO AO RISCO
A eventual ida de Trump para a Casa Branca também significaria forte correção nos ativos financeiros, com a procura pelos menos arriscados, como ouro e iene e, consequentemente, com prejuízo para os países emergentes como o Brasil. Geraria, segundo especialistas, uma onda de aversão ao risco que poderia causar correção de alta do dólar ante o real e nos contratos de DIs e recuo da bolsa de valores.
Não há quem arrisque o tamanho da correção caso Trump vença.
"Não dá para arriscar como o mercado de fato vai ficar. Haverá corrida por proteção, mas a pressão pode diminuir à medida que forem sendo conhecidas as intenções dele (Trump) e o que ele vai de fato fazer ou conseguir fazer", avaliou o economista-chefe da corretora Infinity Asset, Jason Vieira.
As mais recentes pesquisas de intenção de voto, divulgadas nesta segunda-feira, mostraram que Hillary abriu alguma vantagem sobre Trump. Além disso, a democrata recebeu um impulso com o anúncio do FBI de que não vai haver acusações formais contra ela em uma investigação sobre seus emails.
Apesar da melhora nas pesquisas para Hillary, uma vitória de Trump não pode ser descartada e suas consequências ainda não foram devidamente calculadas.
"O mercado ainda não precificou uma vitória de Trump", resumiu o economista-chefe da corretora Gradual Investimento, André Perfeito.
(Edição de Patrícia Duarte e Alexandre Caverni)