Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Sindicatos de trabalhadores da estatal de energia Eletrobras (SA:ELET3) têm preparado a realização de uma greve de 72 horas que poderia ser iniciada caso um projeto do governo para privatização da companhia entre na pauta de votações do Senado.
A paralisação não impactaria a geração de energia no Brasil, que tem visto seu parque de hidrelétricas pressionado por uma crise hídrica, mas poderia eventualmente atrapalhar atividades de manutenção e elevar riscos para o sistema, disse à Reuters um líder sindical.
O movimento visa protestar contra os planos do governo Jair Bolsonaro de desestatizar a companhia. Uma medida provisória (MP) com a proposta para viabilizar a operação foi aprovada pela Câmara dos Deputados em maio e agora precisa ser deliberada pelos senadores até 22 de junho para não perder a validade.
"Nós já deliberamos em assembleia, em todas as bases, por uma greve de 72 horas... caso o Congresso, o Senado Federal, coloque em pauta a MP 1031 na próxima semana", afirmou o diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia do Rio de Janeiro e Região (Sintergia-RJ), Emanuel Mendes Torres.
Na quarta-feira, o relator da MP sobre a privatização no Senado, Marcos Rogério (DEM-RO), disse que pretende colocar o tema para discussão e possível votação na próxima semana.
Ele disse que pretende submeter seu relatório sobre a medida para votação possivelmente na terça-feira, o que tem feito os sindicatos se mobilizarem previamente.
"Se botar (na pauta do Senado) na terça a gente declara a greve, porque já foi deliberada", disse Torres.
A Eletrobras tem mais de 12 mil empregados, e o sindicalista disse acreditar em forte adesão ao movimento devido à resistência dos funcionários contra a privatização.
Torres disse que a paralisação não vai afetar serviços de geração e transmissão de energia prestados pela estatal, mas não haverá troca de turno das equipes responsáveis por essas atividades durante a greve.
Mas ele disse que o protesto deve tirar da rua equipes de manutenção.
"A princípio, uma greve dessas não afeta o sistema. Mas a gente sabe que, num sistema tão complexo e gigantesco como a Eletrobras... basicamente, quando você não troca o turno e não deixa o pessoal sair para fazer manutenção, é sempre um risco para o sistema.
Os sindicatos também querem realizar na sexta-feira uma manifestação em frente à sede da estatal, no Rio de Janeiro, aproveitando o aniversário de 59 anos de criação da companhia.
A Eletrobras é responsável por cerca de um terço da capacidade de geração de energia no Brasil e metade das instalações de transmissão.
(Por Luciano Costa; edição de Roberto Samora)