SÃO PAULO (Reuters) - Duas das maiores produtoras de celulose e papel do país afirmaram nesta quinta-feira que veem cenário favorável para alta de preços da matéria-prima do papel nos próximos meses, em diante do cenário de estoques apertados na cadeia global e gargalos logísticos e de produção do setor, aliados à demanda persistentemente aquecida por papel.
Executivos de Suzano (SA:SUZB3) e Klabin (SA:KLBN11) citaram falta de contêineres para transporte de celulose a compradores, clientes com estoques em alguns casos abaixo do normal e perspectiva de paradas para manutenção de rivais no Hemisfério Norte, que devem levar mais tempo que o projetado diante dos impactos de novas infecções por Covid-19.
"A demanda é sólida e apoia o aumento de preços em todos os mercados, produtos e geografias. O mercado está curto no lado da oferta", disse o diretor comercial da área de celulose da Suzano, Carlos Aníbal, em teleconferência com analistas após forte resultado trimestral na véspera.
Por sua vez, Alexandre Nicolini, diretor de celulose na Klabin, disse a analistas em teleconferência de resultados que "o ambiente de negócios está bastante favorável nos próximos meses...isso leva a crer em mercado forte no primeiro e segundo trimestres. O ano deve ser bastante favorável para industria de celulose".
As ações da Suzano subiam 2,2% às 13h25, enquanto as units da Klabin, que divulgou balanço antes da abertura dos mercados na quarta-feira tinham ganho de 0,6%. O Ibovespa avançava 1,19%.
Sem dar detalhes, Aníbal afirmou que a Suzano terminou dezembro com o menor nível de estoques de celulose da história da companhia, após passar os últimos 2 anos reduzindo um volume excedente de 2 milhões de toneladas de seu inventário.
Aproveitando o cenário favorável, o executivo da Suzano comentou que a companhia deverá produzir mais celulose neste ano em relação às quase 11 milhões de toneladas produzidas em 2020, que por sua vez foram 10% acima do volume de 2019.
Por sua vez, Nicolini comentou que novas capacidades de produção de celulose a serem ativadas mais para o fim do ano na indústria global não devem afetar de maneira desfavorável a equação de oferta e demanda em 2021.
Segundo o executivo da Klabin, apesar dos produtores de celulose enfrentarem pressão de alta de preços de produtos químicos e de combustível, a companhia não vai fazer parada de manutenção neste ano em sua fábrica no Paraná, deixando o processo para 2022. Isso deve ajudar a empresa a elevar produção este ano, ao mesmo tempo em que reduzirá custos.
No front de papel para embalagens, principal área de negócios da Klabin, as perspectivas também são positivas, com o aumento da demanda gerada pelo crescimento do comércio eletrônico no mundo, na esteira das medidas de isolamento social contra Covid-19.
"O consumo de caixas no Brasil está lá em cima. Os estoques estão baixos...é cenário de reposição de preço acima da inflação que deve continuar por mais alguns meses", disse o diretor da área de papéis da Klabin, Flávio Deganutti.
A situação dos mercados de papel e celulose deve ajudar ambas as companhias a acelerarem seus processos de redução de dívida, abrindo espaço nos balanços para novos projetos de expansão de capacidade. A Suzano fechou 2020 com alavancagem em reais de 4,3 vezes. Na Klabin, o indicador foi de 4 vezes.
De fato, ambas as empresas atravessam momentos definição de tais projetos. O presidente da Suzano, Walter Schalka, afirmou que a empresa poderá aproveitar essa queda mais rápida na alavancagem neste ano para decidir se acelera os planos para implantação de nova fábrica de celulose no Mato Grosso do Sul.
Enquanto isso, a Klabin deve iniciar em julho a operação de sua nova máquina de papel para embalagens no Paraná, a primeira do projeto de produção integrado chamado Puma II. A empresa também está "a semanas" de decidir sobre a implantação de uma segunda máquina de papel na unidade, disse o diretor da área.
(Por Alberto Alerigi Jr.; edição de Aluísio Alves)