Os juros futuros fecharam a sexta-feira na contramão do bom desempenho dos demais ativos locais, com taxas em forte alta, renovando máximas na reta final da sessão regular. Com isso, a curva devolveu boa parte da desinclinação vista na quinta-feira após os ajustes do Comitê de Política Monetária (Copom), com a ponta longa tendo aumento de prêmio de mais de 20 pontos-base. A piora começou na última hora de negócios e ganhou fôlego na reta final, sem que profissionais nas mesas de renda fixa pudessem identificar um estopim. Tanto a Bolsa quanto o real tiveram desempenho positivo nesta sexta-feira.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular em 4,615%, de 4,585% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 7,375% para 7,58%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 8,08%, de 7,864% na quinta.
No período da tarde desta sexta, alguns agentes citaram fatores técnicos influenciando os ajustes, como a tradicional zeragem de posição antes do fim de semana. Outros relacionam o aumento da aversão ao risco prefixado às preocupações com o avanço da pandemia e o impacto sobre as contas públicas, num quadro de enfraquecimento da atividade que exija mais apoio fiscal do governo. No período da tarde, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, anunciou prorrogação por mais uma semana das medidas de restrição.
Por outro lado, o noticiário sobre vacinas foi positivo, com a informação de que o governo assinou contrato com os laboratórios Janssen, do grupo Johnson & Johnson (NYSE:JNJ) (SA:JNJB34), e Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34) para a compra de, ao todo, 138 milhões de doses de vacinas.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, disse ter estranhado o movimento da curva na etapa vespertina. "É curioso porque o câmbio está tranquilo hoje. Os Treasuries até pioraram, mas não tanto para explicar o que houve no DI", avaliou. "A verdade é que o mercado está muito machucado", disse.
Segundo ele, por mais que a decisão de começar o ciclo de altas da Selic com um aperto mais firme, de 0,75 ponto porcentual, tenha agradado, também pegou muita gente de surpresa. "Quando se faz um movimento não convencional, o mercado fica sem referência", disse.
Luis Felipe Laudisio, operador de renda fixa da Renascença DTVM, também não viu justificativa plausível para a trajetória da curva. "Nos parece ainda um ajuste técnico à decisão do Copom, e dado elevado posicionamento, podemos ver mais alguns dias de descolamento do que seria um movimento 'racional'", explicou.
Apesar do estresse nesta sexta, a curva perdeu inclinação no balanço da semana, essencialmente pelo resultado do Copom, que não somente foi mais agressivo ao elevar a Selic em 0,75 ponto porcentual como também indicou que deve repetir a dose em maio.
Desse modo, pela precificação da curva, o mercado conta já com uma elevação de 1 ponto porcentual para o Copom de maio e de 0,75 ponto para junho. A agenda da próxima semana, com ata do Copom e Relatório de Inflação, pode reservar nova leva de ajustes nas apostas.