Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A curva a termo brasileira deu continuidade nesta quarta-feira ao movimento mais recente de fechamento de taxas, com os DIs reagindo novamente à baixa dos rendimentos dos Treasuries, em um dia com divulgação de dados inflacionários e fiscais piores no Brasil.
Como vem ocorrendo desde a semana passada, o viés vindo do exterior era de baixa para as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros), com os rendimentos dos títulos de 10 anos dos EUA novamente em queda, em meio à avaliação de que o Federal Reserve pode ter encerrado seu atual ciclo de elevação de juros. Nesta quarta-feira, a curva norte-americana precificava corte de juros já no primeiro semestre de 2024.
“Basicamente, o movimento (de queda das taxas dos DIs nesta quarta-feira) é o que estamos vendo desde a semana passada. A decisão do Federal Reserve, seguida pelo (relatório de empregos) payroll abaixo do esperado, desestressou muito os mercados”, comentou Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “O mercado vê a possibilidade de o Fed não subir mais os juros.”
No Brasil, conforme Sung, os sinais de que o governo não enviará ao Congresso no curto prazo um pedido para alterar a meta de resultado primário zero para 2024, além das discussões da reforma tributária no Congresso, também atuaram para o fechamento da curva nos últimos dias.
O movimento continuou nesta quarta-feira no Brasil a despeito de surgirem dados econômicos piores. Pela manhã, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) subiu 0,51% em outubro, acelerando ante elevação de 0,45% no mês anterior. O resultado ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,31%.
Já o Banco Central informou que o setor público consolidado registrou um déficit primário de 18,071 bilhões de reais em setembro. Economistas consultados em pesquisa da Reuters esperavam saldo positivo de 4,26 bilhões de reais.
Durante a tarde, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu que eventual alteração da meta fiscal pelo governo geraria incerteza e a possibilidade de interpretação de que o objetivo foi abandonado.
"Mudar a meta fiscal agora gerará muita incerteza", comentou Campos Neto em Nova York. "Se você não tiver um alvo, as pessoas podem interpretar que sua meta fiscal foi abandonada", acrescentou.
Apesar dos dados piores de inflação e fiscal -- que teriam potencial para impulsionar as taxas dos DIs -- a curva no Brasil se manteve em sintonia com a baixa dos rendimentos dos Treasuries mais longos no exterior.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava em 93% as chances de o corte da taxa básica Selic em dezembro ser de 0,50 ponto percentual, como vem sinalizando o BC. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 7%. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,785%, ante 10,801% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,575%, ante 10,609% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,7%, ante 10,759%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,91%, ante 10,979%.
Às 16:46 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 4,60 pontos-base, a 4,5254%.