Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a terça-feira em baixa, puxadas pelo recuo dos rendimentos dos Treasuries, na esteira da divulgação de novos dados econômicos nos EUA, com investidores no Brasil elevando as apostas de que o primeiro corte da Selic poderá ser de 0,50 ponto percentual.
Com o Congresso em recesso e a agenda de indicadores esvaziada no Brasil, os investidores se voltaram para o exterior em busca de um norte para as operações. Isso foi dado pelo recuo dos rendimentos dos Treasuries de prazos médios e longos.
O movimento ocorreu em reação aos dados de vendas do varejo dos EUA, que subiram menos que o esperado em junho, embora os gastos do consumidor pareçam sólidos.
O Departamento de Comércio informou que as vendas no varejo aumentaram 0,2% no mês passado, enquanto economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,5%. Os dados de maio foram revisados para mostrar que as vendas aumentaram 0,5%, em vez dos 0,3% relatados anteriormente.
Além dos dados do varejo, um profissional da área de renda fixa ouvido pela Reuters pontuou que aparentemente os investidores seguiram reduzindo, na curva norte-americana, a probabilidade de o Federal Reserve promover dois aumentos de juros ainda este ano.
Segundo ele, o movimento também influenciou a curva a termo brasileira, em que a queda das taxas se traduziu na elevação das apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderá iniciar o processo de redução da taxa básica Selic, hoje em 13,75% ao ano, com um corte de 0,50 ponto percentual.
Perto do fechamento desta segunda-feira a precificação na curva era de 41% de chances de corte de 0,50 ponto percentual da Selic em agosto e de 59% de probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual. Na sexta-feira passada, perto do fechamento, estes percentuais eram de 24% e 76%, respectivamente.
Embora a curva brasileira tenha indicado em alguns momentos chances divididas para o Copom de agosto, economistas do mercado vêm mantendo a projeção de corte inicial de 0,25 ponto percentual, considerando a comunicação mais recente do BC.
O cenário tende a se definir melhor, no entanto, a partir da semana que vem, com a divulgação do IPCA-15 de julho, no dia 25, e o resultado da reunião de política monetária do Fed, no dia 26.
Em entrevista publicada nesta terça-feira no jornal Folha de S. Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o atual nível da Selic. Para ele, o ciclo de baixa da Selic já deveria ter começado.
“Será que se o governo Bolsonaro tivesse sido reeleito, o tratamento seria esse? É uma pergunta que boa parte da classe política faz hoje”, disse Haddad ao jornal.
De certo modo, a queda das taxas de juros e a precificação de corte de 0,50 ponto também refletem a visão de que, em meio à pressão do governo, o BC pode de fato ser levado a cortar a Selic em meio ponto em agosto.
Em relatório enviado a clientes, o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, afirmou que a curva brasileira passa por um processo de consolidação.
“Juros futuros caem novamente. Os contratos se consolidam, mas estão abaixo da taxa do dia 29 de junho, dia da reunião do CMN que manteve o regime de metas de inflação. Ou seja, a alta recente foi bem leve e observamos consolidação do recente e forte movimento de queda”, disse.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,76%, ante 12,795% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,74%, ante 10,799% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,14%, ante 10,229% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,155%, ante 10,251%.No exterior, os rendimentos dos Treasuries de 10 anos se mantinham em baixa.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 0,40 ponto-base, a 3,7931%.