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À primeira vista, a principal notícia econômica da semana parecia excelente: a proposta de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$5.000 por mês. No entanto, o que se seguiu foi uma forte turbulência no mercado financeiro. Para entender por que uma medida aparentemente positiva gerou tanta apreensão, é preciso olhar para a matemática por trás dela e como isso impactou diretamente os três termômetros da economia: as taxas de juros, o câmbio e a Bolsa de Valores.
O estopim da desconfiança foi a falta de uma resposta clara para a pergunta de um trilhão de reais: de onde virá o dinheiro para cobrir o "buraco" que essa isenção causará nos cofres públicos? Deixar de arrecadar impostos de milhões de brasileiros significa uma perda de receita de dezenas de bilhões de reais para o governo, e essa perda é permanente. Sem um plano crível para cortar outros gastos ou criar uma nova fonte de receita, o mercado interpretou a medida como um sinal de que o governo pode estar perdendo o controle de suas contas, o que acendeu um alerta vermelho para o aumento do risco fiscal.
A primeira consequência foi sentida nas taxas de juros (Selic e DI). Quando o risco fiscal aumenta, os investidores que financiam a dívida do governo passam a exigir juros mais altos para compensar a incerteza. Isso fez com que toda a curva de juros futuros (os DIs) subisse. Na prática, é o mercado sinalizando ao Banco Central que o espaço para futuros cortes da taxa Selic diminuiu drasticamente. Para o cidadão, o resultado é um crédito mais caro para financiar um carro, um imóvel ou para o capital de giro das empresas, freando a economia.
O segundo termômetro a reagir foi o câmbio. A incerteza fiscal funciona como um repelente para o capital estrangeiro, levando investidores a trocarem seus reais por dólares em busca de segurança. Com mais gente comprando a moeda americana, seu preço sobe. Um dólar mais caro não afeta apenas quem viaja, mas encarece produtos importados, desde o trigo do pão até os componentes eletrônicos, pressionando a inflação. O poder de compra do salário de todos diminui.
O terceiro impacto foi no Ibovespa, o principal índice da nossa Bolsa. Apesar de alguns momentos de aparente estabilidade, o que vimos foi um movimento de "fuga para a qualidade". Os investidores venderam ações de empresas mais sensíveis à economia doméstica, como varejistas e construtoras, que sofrem com juros altos. Ao mesmo tempo, buscaram refúgio em um número muito restrito de empresas exportadoras, que se beneficiam do dólar alto. A estabilidade do índice, portanto, mascarou uma fraqueza generalizada na maior parte do mercado acionário.
É aqui que mora o grande paradoxo da semana. A intenção de deixar mais dinheiro no bolso do trabalhador pode gerar o efeito contrário. O que uma pessoa ganha ao deixar de pagar Imposto de Renda, ela pode acabar perdendo ao pagar mais caro no supermercado, na bomba de gasolina e nas parcelas de suas dívidas. O benefício direto no holerite é anulado pelos custos indiretos espalhados por toda a economia.
Olhando para a próxima semana, o mercado estará de olho em eventos cruciais que podem intensificar ou aliviar essa tensão. A agenda está cheia e será um verdadeiro teste para a resiliência da nossa economia.
No Brasil, o dado mais importante será a divulgação do IPCA, a nossa inflação oficial. Em um momento de alta do dólar e de desconfiança com os gastos do governo, este número será vital. Uma inflação acima do esperado pode ser a gota d’água para o mercado, confirmando os temores de que o desequilíbrio fiscal já está contaminando os preços e praticamente fechando a porta para futuros cortes na taxa Selic.
No cenário internacional, a atenção se volta para a divulgação da Ata do FOMC, o comitê que define os juros nos Estados Unidos. Esse documento revela os detalhes da última reunião do banco central americano. Os investidores buscarão pistas sobre o quão preocupados os diretores estão com a persistência da inflação por lá. Um tom mais duro (hawkish) na ata, sinalizando juros altos por mais tempo nos EUA, tende a fortalecer o dólar no mundo todo, adicionando uma camada extra de pressão sobre o nosso câmbio.
A correlação é direta: o IPCA no Brasil testará a pressão inflacionária interna, que é agravada pelo risco fiscal, enquanto a Ata do FOMC calibrará o cenário de juros externos e a força do dólar. Se a nossa inflação vier alta e a ata americana indicar juros elevados por lá, teremos a combinação perfeita para mais uma semana de juros futuros pressionados, dólar forte e um Ibovespa defensivo.
Em suma, a semana nos ensinou que não existe almoço grátis na economia. Medidas de grande impacto, mesmo que bem-intencionadas, precisam vir acompanhadas de responsabilidade fiscal. Caso contrário, a conta chega para todos, de formas que nem sempre são óbvias à primeira vista.
É hora de entrar em AÇÃO!