Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a terça-feira em alta firme, com investidores realizando lucros e ajustando posições após quedas nas três sessões anteriores, em um dia marcado pela ata do último encontro do Copom e por declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que reforçaram as mensagens mais recentes de cautela na política monetária.
No fim da tarde desta sexta-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,565%, ante 10,553% do ajuste anterior. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,125%, ante 11,09% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,505%, ante 11,447%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,08%, ante 11,982%, e o contrato para janeiro de 2033 marcava 12,09%, ante 11,994%.
Na ata, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicou que, além da unanimidade entre os membros quanto à manutenção da taxa Selic em 10,50% ao ano, todos concordaram que o colegiado deve "perseguir a reancoragem das expectativas de inflação independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancoragem ora observada".
Ao longo do documento, o BC voltou a fazer considerações sobre a questão fiscal, os efeitos econômicos da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, o cenário externo adverso, o mercado de trabalho aquecido e a resiliência da inflação de serviços -- fatores de pressão sobre as expectativas.
Além disso, o documento trouxe uma elevação da taxa de juros neutra -- aquela em que não há estímulo nem retração da economia -- de 4,50% para 4,75%, conforme o cálculo do BC.
Profissionais ouvidos pela Reuters avaliaram a ata como “neutra” para a curva de juros, por apenas reforçar pontos abordados no comunicado do Copom na semana passada.
Durante videoconferência, Galípolo retomou ideias contidas nos documentos. Ele também reconheceu o incômodo com o avanço recente do dólar ante o real, mas ressaltou que o BC não tem uma meta de câmbio ou de diferencial de juros, mas sim uma meta de inflação.
“Tivemos dois vetores relevantes hoje (terça-feira), a ata e o Galípolo, mas nenhum dos dois trouxe novidades. Pelo contrário, reforçaram a visão dos últimos dias, em que o Copom serviu para pacificar um pouco do estresse dos ativos”, comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Essa “pacificação”, no entanto, não significa que os fatores de pressão foram superados, como a desconfiança do mercado em relação ao ajuste fiscal do governo. “Então agora a gente devolve um pouco dos ganhos dos últimos dias, porque o ambiente local não é tão bom”, acrescentou Spiess, ao justificar a elevação das taxas dos DIs.
Para o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, a ata manteve o tom do comunicado do Copom e Galípolo, por sua vez, reforçou a ata. Assim, o avanço das taxas nesta terça-feira, em especial entre os contratos com prazos mais longos, é uma “correção do risk on (busca por risco) de ontem”, avaliou.
Neste cenário, a taxa do vencimento para janeiro de 2031 atingiu o pico de 12,150% às 12h39, em alta de 17 pontos-base ante o ajuste anterior. O movimento ocorria a despeito de, no exterior, os Treasuries estarem acomodados, com o rendimento do papel de dez anos oscilando perto da estabilidade na maior parte do dia.
Os dados de arrecadação em maio, também divulgados pela manhã, foram positivos, mas incapazes de aliviar as taxas na curva a termo, em meio à persistência da ideia de que o governo brasileiro precisará cortar despesas -- e não somente arrecadar mais -- para equilibrar as contas.
A Receita Federal informou que a arrecadação do governo teve alta real (descontada a inflação) de 10,46% em maio ante o mesmo mês do ano anterior, somando 202,979 bilhões de reais. É a maior arrecadação para o mês desde o início da série histórica, em 1995. O dado veio um pouco acima dos 199,726 bilhões de reais estimados por economistas em pesquisa da Reuters.
Durante a tarde as taxas futuras perderam um pouco da força, mas ainda assim terminaram com altas de 10 pontos-base nos vencimentos mais longos.
Perto do fechamento a precificação da curva indicava 87% de chances de manutenção da Selic em 10,50% no próximo encontro do Copom, em julho. Havia outros 13% de probabilidade precificados no sentido de que o colegiado poderá aumentar em 25 pontos-base a Selic. Na segunda-feira, os percentuais eram os mesmos.
Às 16h36, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 2 pontos-base, a 4,23%.