Investing.com – O pânico no mercado financeiro com as incertezas sobre os impactos do novo coronavírus sobre a atividade econômica e os balanços das empresas não afastou totalmente os investidores de fundos. Especialmente os mais apimentados.
Os números da Anbima mostram um leve apetite do investidor por fundos de ações, que captaram R$ 703,9 milhões em abril até o dia 7, último dado disponível. Em março, os fundos de ação receberam R$ 8,3 bilhões.
Os principais aportes estão exatamente nos fundos que deixam a condução mais livre para o gestor e, normalmente, possuem mais volatilidade. Os campeões de abril são os fundos tipo Livre, que captou R$ 370 milhões no mês, e não são presos a regras de investimento, além daqueles estabelecidos na lâmina. Logo atrás, com entrada de R$ 321 milhões estão os focados em investimento no exterior. Já os fundos indexados, que seguem um índice, tiveram saques de R$ 168 milhões.
O movimento de saques tem sido mais forte nos fundos de renda fixa – captação líquida negativa de R$ 32 bilhões em março e de R$ 24 bilhões em abril – e nos multimercados, que perderam R$ 5,1 bilhões no mês passado e R$ 2,9 bilhões até dia 7.
Em sua plataforma, a Pi vê um cenário um pouco mais positivo de seus investidores, com captação positiva nas duas primeiras semanas de abril, de clientes que aproveitaram o momento para investir em fundos de ações e multimercado.
Apesar do discreto otimismo dos investidores, o ambiente ainda é de incertezas e exige cuidado e gestão de risco.
“Ninguém tem bola de cristal para ver o que vai acontecer. As assets têm falado que o momento é de cautela”, avalia Gabriela Schor, especialista de produtos da Pi Investimentos.
O tombo da bolsa, que apagou mais de R$ 1,7 trilhão em valor de mercado das empresas negociadas na B3 na primeira metade de março, pode ter ficado para trás, mas o prazo de recuperação ainda é incerto.
“Todos [os gestores] acham que vai recuperar, mas ninguém tem uma data”, comenta Schor. As apostas mais otimistas colocam a bolsa em rota de retomada em poucos meses, enquanto operadores mais cautelosos preferem trabalhar com prazo mais longo, acima de um ano.
No radar dos gestores está o noticiário atualizado em ritmo frenético trazendo novos números e avanços da reabertura dos países que sofreram inicialmente com a pandemia.
Todos aguardam sinais mais claros de um tratamento mais eficaz ou o avanço da criação da vacina, que possibilitariam a retomada mais rápida da economia e o retorno da confiança dos consumidores – ou possibilidade de novos lockdowns com eventuais novas ondas de disseminação do coronavírus.
Enquanto os sinais positivos não vêm, o mercado vem traçando o que pode ser a pior recessão do Brasil da história. Apesar de o governo continuar com a projeção de PIB de 0%, segundo o BC, e de 0,02% do Ministério da Economia, os investidores apostam numa forte queda da economia com o impacto do isolamento social para controlar a transmissão do Covid-19.
Na ponta negativa das projeções está o think-tank norte-americano Peterson Institute for International Economics, que aposta contração de até 9% do Brasil neste ano. Os bancos têm rebaixado em sequência suas previsões, com UBS apostando em -2%, Santander em -2,2%, JP Morgan -3,2%, Goldman Sachs 3,4%, Morgan Stanley -3,7% e o Banco Mundial em -5%.
O Brasil não está sozinho esta derrocada. Enquanto o FMI traça queda de 5,3% em 2020, a economia global deverá retrair 3%, com tombo de 6,1% em economias avançadas como EUA, Japão e Alemanha.
Para o investidor local que pensa no longo prazo, a recomendação é não sacar. “Não mexa na posição e se você não precisa do dinheiro. Os fundamentos [que justificaram a compra] estão lá”, acredita Schor.