Por Ron Bousso
LONDRES (Reuters) - A francesa Total se tornou nesta sexta-feira a primeira grande empresa global de energia a deixar o principal lobby da indústria de óleo e gás dos Estados Unidos por divergências em relação às políticas climáticas e ao apoio do grupo à flexibilização de regras de exploração.
A Total disse que não vai renovar seu status de membro do Instituto Norte-Americano de Petróleo (API, na sigla em inglês) em 2021, após uma revisão das posições climáticas do lobby, que foram descritas como apenas "parcialmente alinhadas" com as da Total.
A saída da empresa do API, o mais poderoso grupo de lobby de óleo e gás dos EUA, ocorre antes de mudanças radicais nos rumos políticos norte-americanos, com o presidente eleito Joe Biden prometendo combater as mudanças climáticas e levar o país a emissões líquidas zero até 2050.
O movimento pressiona as concorrentes europeias da Total, a BP e a Shell, a seguir o exemplo, após resistirem à medida no passado.
Ele também ressalta a diferença cada vez maior entre as principais companhias de energia da Europa, que no ano passado aceleraram seus planos para reduzir emissões e ampliar os negócios em energias renováveis, e as rivais norte-americanas Exxon Mobil (NYSE:XOM) e Chevron, que têm resistido arduamente à pressão de investidores pela diversificação dos negócios.
A Total disse que está deixando o API devido ao apoio do grupo industrial, no ano passado, à reversão das regulamentações dos EUA sobre as emissões de metano --um potente gás de efeito estufa--, além de visões divergentes sobre como determinar o preço do carbono, algo visto como fundamental para a redução das emissões, e a falta de apoio do lobby aos subsídios a veículos elétricos.
"Como parte de nossa ambições climáticas tornadas públicas em maio de 2020, estamos comprometidos em garantir, de forma transparente, que as associações setoriais das quais fazemos parte adotem posições e mensagens alinhadas às do grupo no combate à mudança climática", disse o presidente-executivo da Total, Patrick Pouyanné.
O API é reconhecido por suas práticas de segurança na indústria, que são consideradas os padrões globais. No passado, petroleiras europeias apontaram o papel na formulação de padrões industriais como motivo para que seguissem no grupo.
O grupo agradeceu à Total por sua adesão, mas observou que não apoia subsídios para a energia, afirmando que eles distorcem os mercados.
"Acreditamos que os desafios ambientais e energéticos do mundo são grandes o suficiente para que muitas abordagens distintas sejam necessárias para resolvê-los, e nos beneficiamos de uma diversidade de pontos de vista", disse o API.
BP e Shell não estavam imediatamente disponíveis para comentários. Em nota, a norueguesa Equinor disse que até o ano passado seguia membro do API, apesar de algumas divergências em relação às políticas climáticas, mas que atualmente está reavaliando suas associações.
(Reportagem de Ron Bousso, Matthew Green e Shadia Nasralla em Londres, Nerijus Adomaitis em Oslo e Valerie Volcovici em Washington)