Por Krishn Kaushik
NOVA DÉLHI/SÃO PAULO (Reuters) - A Marinha da Índia resgatou nesta sexta-feira a tripulação de um navio cargueiro, afretado pela Anglo American (JO:AGLJ), que transportava minério de ferro do Brasil, após uma tentativa de sequestro no Mar da Arábia na véspera.
Um navio de guerra da Marinha indiana interceptou o graneleiro MV Lila Norfolk, de bandeira liberiana, menos de um dia depois de receber um informe de que a embarcação havia sido alvo de sequestradores a cerca de 460 milhas náuticas da Somália.
Cerca de cinco a seis pessoas armadas abordaram o navio na quinta-feira, de acordo com um relatório recebido pela agência UK Maritime Trade Operations (UKMTO), que disse que a tripulação havia se resguardado na cidadela do navio, espaço que costuma ser equipado com meios de comunicação e suprimentos, usado em caso de pirataria.
A Marinha disse que todos os 21 tripulantes a bordo, incluindo 15 indianos, foram retirados, e um navio de guerra estava ajudando a restaurar a energia para que o navio pudesse retomar sua viagem.
A Anglo American informou em nota que a embarcação afretada pela mineradora havia atracado no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, em 4 de dezembro, e iniciou viagem carregada no dia 6 do mesmo mês.
"Toda a tripulação está segura e o navio segue a caminho do seu destino, com previsão de chegada para o dia 12 de janeiro (última atualização da agência marítima)", disse a companhia, sem dar detalhes sobre os volumes de minério de ferro que carregava.
Segundo dados do terminal da LSEG, o Lila Norfolk tem capacidade para 170 mil toneladas.
O navio tem como destino Khalifa bin Salman, no Bahrein, de acordo com a empresa britânica de segurança marítima Ambrey.
"A tentativa de sequestro pelos piratas foi provavelmente abandonada com o aviso vigoroso da Marinha indiana, aeronave de patrulha marítima, de interceptação por um navio de guerra da Marinha indiana", disse a Marinha em um comunicado.
A Marinha indiana aumentou sua vigilância no Mar da Arábia após os recentes ataques na região.
O sequestro e a tentativa de sequestro de navios comerciais no Golfo de Áden e no Mar da Arábia foram retomados em dezembro, após uma pausa de seis anos.
Os especialistas acreditam que os piratas foram encorajados após as forças navais antipirataria lideradas pelos EUA desviarem sua atenção para o vizinho Mar Vermelho, na tentativa de impedir os ataques dos rebeldes houthis.
Dados do Centro de Fusão de Informações da Marinha Indiana - Região do Oceano Índico mostram pelo menos três sequestros em dezembro. O incidente anterior desse tipo foi registrado em 2017.
"O súbito ressurgimento dos sequestros e ataques a navios só pode ser atribuído à disposição dos piratas de aproveitar o fato de que o foco das forças marítimas antipirataria mudou em grande parte do Golfo de Áden para o Mar Vermelho", disse Abhijit Singh, chefe da Iniciativa de Política Marítima do think tank Observer Research Foundation em Nova Délhi.
A Índia não faz parte da força-tarefa liderada pelos EUA no Mar Vermelho.
(Reportagem de Krishn Kaushik e Shubham Kalia, em Bengaluru; reportagem adicional de Roberto Samora, em São Paulo, e Marta Nogueira, no Rio de Janeiro)