Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O Vaticano alertou neste sábado os católicos romanos conservadores que se opuseram à decisão do papa Francisco de restringir a velha tradicionalista missa em latim de que eles estão semeando divisão e criando “polêmicas estéreis”.
O departamento do Vaticano que supervisiona sacramentos e liturgia emitiu uma diretiva em resposta às exigências dos bispos por esclarecimentos, após um documento em julho no qual Francisco reverteu decisões de seus dois predecessores e fez restrições à missa.
Desde julho, alguns conservadores, incluindo bispos, têm desafiado abertamente o papa, resultando no último capítulo do que alguns chamaram de “guerras de liturgia” da Igreja.
Conservadores religiosos, especialmente nos Estados Unidos, usaram o debate em torno da missa em latim para se alinhar a veículos de imprensa politicamente conservadores e criticar o papa por uma série de questões, como mudanças climáticas, imigração e justiça social.
“Como pastores, não podemos nos emprestar a polêmicas estéreis, capazes apenas de criar divisão, na qual o ritual (a missa) em si é frequentemente explorada por pontos de vista ideológicos”, disse o arcebispo Arthur Roche, chefe do departamento, em uma carta introdutória às respostas a 11 questões.
O documento de sábado afirma que conservadores que são a favor da missa em latim não podem usar uma parte tão sagrada do catolicismo para negar a “validade e legitimidade” das reformas do Segundo Conselho do Vaticano, de 1962 a 1965, que incluiu uma abertura ao mundo moderno e diálogo com outras religiões, especialmente o judaísmo.
O texto também deixa claro que os ritos pré-Vaticano II Latim não deveriam ser usados por outros sacramentos, como batismo e confirmação.
Antes do Conselho, a missa católica era um ritual elaborado em latim por um padre voltado ao leste com suas costas para a congregação. O Vaticano II modernizou a liturgia, incluindo uma participação mais ativa da congregação, e colocou o padre de frente para os fiéis para rezar em sua língua local.
Tradicionalistas, pequenos em número, mas uma minoria muito vocal na Igreja Católica, que tem 1,3 bilhão de membros, rejeitaram a nova missa, que é conhecida como Novus Ordo e entrou em uso geral no começo dos anos 1970. Muitos sentem falta da sensação de mistério e reverência do ritual em latim e as músicas sagradas que existem há séculos que também foram deixadas de lado.
Tanto o papa Bento 16 quanto o papa João Paulo II relaxaram as restrições à missa em latim, apaziguando os conservadores.
Ao reintroduzir as restrições em julho, Francisco afirmou que a leniência dos seus predecessores, embora bem intencionada, havia sido “explorada” por motivos ideológicos.