Por Tatiana Bautzer e Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - A varejista de eletroeletrônicos Via Varejo (SA:VVAR3) está pedindo a suspensão de alguéis de mais de 1.020 lojas físicas fechadas por conta de medidas de quarentena em todo país, como uma forma de lidar com a queda de 50% de sua receita, segundo duas fontes com conhecimento do assunto.
Uma das pessoas disse que a empresa já conseguiu acordo com alguns proprietários e está esperando fechar um acordo em grupo com outros lojistas para não pagar aluguéis de suas lojas em shopping centers.
A Via Varejo reduziria as despesas em cerca de 80 milhões de reais se todos os proprietários aceitarem o pedido de suspensão de aluguéis, o que ajudaria a companhia a enfrentar a queda de receita, segundo as fontes, que pediram anonimato para revelar discussões privadas.
O acionista Michael Klein, que é dono de dezenas de lojas alugadas pela Via Varejo, também recebeu o mesmo pedido e está sendo tratado como todos os outros proprietários, afirmaram as fontes.
Embora a queda de 50% seja relevante, a Via Varejo conseguiu melhorar sua receita desde o início da quarentena há algumas semanas, quando a queda chegou a 70%.
Na segunda semana de quarentena, a Via Varejo lançou um software novo para seus vendedores, que já estava em desenvolvimento antes da pandemia, que facilita a vendedores das lojas físicas fazer vendas online, contatando os consumidores por mídias sociais e ajudando as pessoas durante o processo de compra.
O novo sistema reduziu a queda de receita e as vendas da Via Varejo estão atualmente 50% abaixo das metas estabelecidas antes da pandemia. A empresa não quis fazer comentários sobre o assunto.
Se a Via Varejo conseguir a adesão de proprietários, a posição de caixa de 4 bilhões de reais em dezembro deve durar mais meses do que o inicialmente previsto.
O grupo também espera detalhes do programa de socorro a varejistas, afirmou uma das fontes.
FORNECEDORES
Além de tentar não pagar o aluguel das lojas fechadas, a Via Varejo também postergou o pagamento de fornecedores indiretos, segundo um comunicado visto pela Reuters. Na nota, a empresa atribuiu a decisão a disrupções no trabalho dos funcionários durante a pandemia.
"Estamos prorrogando toda nossa programação de obrigações por até um mês e prazo mínimo de 75 dias após a emissão da nota", diz o comunicado. Os vencimentos entre 3 e 30 de abril foram transferidos para 5 de maio. Uma fonte próxima à empresa diz que a Via Varejo decidiu unificar várias datas mensais de pagamentos a fornecedores em uma só.
Transportadoras estão sendo poupadas do atraso, já que são essenciais para conseguir entregar compras online aos consumidores.
Fornecedores diretos, como fabricantes de linha branca e eletroeletrônicos, estão recebendo em dia, mas a companhia não está aumentando estoques e só repõe produtos que acabam, segundo duas pessoas com conhecimento do assunto.
"O mix de encomendas mudou recentemente para incluir mais eletroportáteis de uso doméstico como aspiradores de pó e air fryers", disse uma fonte da indústria.
Carlos Daltozo, co-chefe de renda variável da Eleven Financial, observou que a crise do coronavírus atingiu a Via Varejo em meio ao processo de recuperação do negócio que sucedeu a troca de controle.
A reestruturação começou há pouco menos de um ano, quando um grupo de investidores liderado pelo acionista Michael Klein e por fundos da XP Investimentos comprou uma participação controladora de 36% na Via Varejo do GPA (SA:PCAR3), uma subsidiária da rede francesa Casino Guichard Perrachon SA.
"Obviamente o controlador anterior ficou tentando se desfazer do negócio por dois anos sem muito foco na operação, que vinha sendo administrada sob a lógica supermercadista, com estoques grandes e centralizados", disse Daltozo.
A XP reduziu sua posição no mês passado de 7,5% logo após a transferência para menos de 5%.