Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Grupo Vittia, empresa brasileira de biotecnologia e nutrição especial de plantas, trabalha para assumir a liderança em defensivos biológicos, o segmento de maior crescimento em insumos agrícolas do país, ainda que mantendo planos de oferta inicial de ações (IPO) na "geladeira", à espera de maior amadurecimento do mercado a companhias do agronegócio.
Após a inauguração no final do ano passado da maior fábrica da América Latina de biológicos, produtos que colaboram para aumentar a produtividade agrícola e ainda têm apelo de sustentabilidade, a companhia se prepara agora para disputar a liderança no país com a holandesa Koppert.
Com capacidade produtiva instalada de 5 milhões de litros/quilogramas por ano, a nova unidade do Vittia em São Joaquim da Barra (SP) tem potencial de receita acima de 500 milhões de reais ao ano, disse à Reuters o diretor financeiro do grupo, Alexandre Del Nero Frizzo.
"Acreditamos que o faturamento vai ter um salto em 2021 (com a nova unidade)", destacou ele, ressaltando que a empresa pretende "ser líder" nesse mercado com suporte da nova fábrica.
A companhia com meio século de atuação no Brasil --e quatro importantes aquisições desde a entrada de um fundo na empresa familiar em 2014-- registrou salto de 69% na receita líquida do primeiro trimestre, para 119,5 milhões de reais, após encerrar 2020 com faturamento de cerca de 580 milhões de reais.
Mas comentou que a nova unidade na região de Ribeirão Preto que detém, entre outras, tecnologias de fermentação líquida, para fungos e bactérias, vai correr atrás de um mercado defensivos biológicos que teve crescimento de 40% em 2020.
Ainda pequena perto do mercado de defensivos químicos, a categoria de produtos que combatem pragas nas lavouras com fungos, bactérias, vírus e insetos deve crescer 33% em 2021 no país, a 1,79 bilhão de reais, conforme pesquisa divulgada pela associação CropLife, que considera esses biológicos como o segmento que mais cresce entre os insumos agrícolas.
Segundo o executivo da Vittia, a companhia cresceu 50% na linha de biológicos em 2020, um avanço que poderia ter sido ainda maior, se a empresa já tivesse maior capacidade. "Este ano, com a entrada da nova planta, foi eliminado o gargalo."
Ainda que seja uma tecnologia "revolucionária" e de forte crescimento, os biológicos representam uma fatia menor do mercado de defensivos, dominados pelos químicos, cujas vendas no país somam cerca de 50 bilhões de reais por ano.
PLANOS DE IPO
No primeiro trimestre, o grupo com unidades produtivas também nos municípios paulistas de Ituverava, Serrana, Artur Nogueira, além das cidades mineiras de Uberaba e Patos de Minas, mais que dobrou a geração de caixa medida pelo Ebitda.
A empresa teve impulso das vendas de biológicos, mas também de outros produtos, como os inoculantes (fertilizantes biológicos), os quais já é líder no Brasil.
Os fertilizantes especiais, como produtos à base de bactérias que fazem a fixação biológica do nitrogênio na raiz, responderam por mais de 50% das vendas de 2020 da empresa, que pediu registro para oferta inicial ações (IPO) no ano passado, mas segurou a operação devido às condições do mercado.
A empresa, cuja fatia majoritária de 70% é detida pela família Romanini, avalia que o mercado ainda não estava preparado para receber uma onda de IPOs de companhias do agronegócio como a vista no ano passado --muitas das quais suspenderam as transações.
Embora o agronegócio seja um importante motor da economia brasileira, os investidores e as casas que lidam com IPOs ainda não dispõem do mesmo conhecimento da indústria agrícola que tem sobre outros setores com maior participação na bolsa.
"Em empresas de tecnologia ou e-commerce, o cara já tem todo um embasamento... ele já entende, já sabe como precificar... basicamente é este o desafio (de empresa do agronegócio), quando chega com ativo novo, isso começa a pressionar muito o apetite, o tamanho da ordem", explicou o executivo, citando que mais de dez empresas do agro fizeram processos para IPO, mas a maioria delas não conseguiu concluir.
No caso do Vittia, disse Frizzo, o projeto está em "modo de espera, na geladeira", mas a companhia está preparada para quando as condições favorecerem, para relançar a operação.
O IPO da Vittia permitiria, além da capitalização da empresa para novas aquisições, a "saída" do fundo de private equity Brasil Sustentabilidade FIP, que em 2014 passou a deter uma participação minoritária no grupo familiar.
(Por Roberto Samora)