A Caixa Econômica Federal quer estar presente desde a Nasdaq, bolsa de tecnologia nos Estados Unidos, à palma da mão de catadores de lixo reciclável no Brasil. E é por meio do seu "novo" banco digital que a instituição quer chegar a esses extremos. Após aprovações internas, o objetivo é, conforme o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, encaminhar ainda este mês o pedido de bênção ao Banco Central para tocar a abertura de capital do negócio, que poderá ser feita na bolsa americana.
Enquanto isso, a instituição segue estruturando o futuro de seu banco digital. Um dos impulsos virá de uma linha de microcrédito, um dos planos do governo Bolsonaro para atenuar os impactos do fim do auxílio emergencial. A Caixa pretende colocar à disposição ao menos R$ 10 bilhões para 10 milhões de microempreendedores. Eles terão acesso a empréstimos com valor de R$ 1 mil, três a cinco anos de prazo de pagamento e juros potencialmente abaixo dos praticados no mercado.
"O microcrédito não é auxílio. O auxílio é transferência. O microcrédito é um crédito, para aqueles que têm condição de pagar a Caixa de volta", afirmou Guimarães, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast.
Como está a operacionalização do programa de microcrédito, em estudo pelo governo, para atenuar o fim do auxílio emergencial? O microcrédito sempre foi uma chave dessa gestão. Foi o único ponto que não tínhamos conseguido implementar de fato porque não havia a parte digital - não há microcrédito de larga escala sem o digital. Com a pandemia, tivemos o desafio gigantesco de realizar os pagamentos do auxílio emergencial. Hoje, temos o banco digital com 105 milhões de clientes, dos quais 80 milhões são ativos. Vamos usar essa plataforma para o microcrédito.
Qual o orçamento?
Não temos limitação de capital nem de funding. Serão para quantas pessoas puderem pagar a Caixa de volta. O microcrédito não é auxílio. O auxílio é transferência, o microcrédito é um crédito. Aquelas pessoas que não têm condição de pagar crédito são pessoas de transferência de renda. O número de 10 milhões de clientes para o microcrédito já temos certeza. Pode ser mais, desde que caiba nos modelos de risco de crédito. Temos uma carteira (de crédito total) de R$ 750 bilhões. Se falarmos de R$ 10 bilhões para microcrédito com média de R$ 1 mil por cliente, dá 1,5% da nossa carteira. Não é nada.
Qual será o público-alvo?
Temos vários públicos: comércio, reciclagem, cooperativa, profissionais liberais. Eu estava no 82.º Caixa Mais Brasil, em Cuiabá, num lixão. Lá, tem uma comunidade com 35 membros e essas pessoas pegam o lixo e vendem para o reciclador. Todos têm CPF, receberam auxílio. São iniciativas como essa que vamos fazer. O banco digital que estamos operando, com microcrédito, conversa com banco com 25 mil pontos de venda e 250 mil pessoas trabalhando. A força da Caixa está em ter um banco digital com 105 milhões de contas e estar no Brasil inteiro.
Como estão os planos de criar o banco digital?
Já temos todo o trabalho. É uma discussão com o Banco Central (BC). Pode ser em seis meses. Não há restrição de aporte de capital. Não há nenhum banco digital no Brasil que vá pagar 35 milhões de pessoas todos os meses, dos benefícios sociais. Além disso, são pelo menos 10 milhões de pessoas no microcrédito. Alguns podem conversar (entre si). Na primeira faixa do Minha Casa Minha Vida, as pessoas também terão o banco digital. Só aí são mais 7 milhões de clientes. Temos o Caixa Tem, o aplicativo, que já foi provado, que está na 40.ª versão e já passou por todo sufoco, pagando 90 milhões de pessoas por mês no meio da pandemia.
Foram abertas 105 milhões de poupanças sociais pelo aplicativo da Caixa. Mas qual a garantia de que essas contas terão movimento após o fim do auxílio?
A gente teve mais Pix pelo banco digital do que sem ele. Já oferecemos microsseguros. O microcrédito será obrigatoriamente por meio do banco digital e ainda o Minha Casa, Minha Vida. Mesmo que eu perca todos os outros, ao menos 50 milhões de pessoas vão falar com a gente (por meio do banco digital).
Mas quando o banco digital estará pronto?
É como a Caixa Seguridade, existe, mas não abriu capital. O que falta é obtermos as autorizações necessárias para fazer o spin-off (separação) e abrir o capital do banco digital. Após a aprovação do conselho de administração, vamos enviar o pedido ao Banco Central. Será este mês ainda. Já estamos conversando com o Banco Central sobre o banco digital.
Como estão as demais aberturas de capitais dos negócios da Caixa?
Nosso foco total é na Caixa Seguridade e na conclusão dos acordos societários já assinados. Já temos equipes escolhidas, produtos e então vamos recebe o dinheiro pelos acordos. O plano é fazer a abertura de capital no ano que vem. Seria este ano, mas tivemos muita volatilidade. A gente discute, inclusive, a abertura de capital do banco digital, se for aprovada, fora do Brasil.
Faz sentido Nasdaq, reduto da tecnologia? Será no Brasil e no exterior?
Primeiro, temos ter o banco aprovado e também o IPO. Essa é uma iniciativa, dado o tamanho e relevância do banco digital, que a gente pode fazer (o IPO) no Brasil ou fora. Pode ser dupla listagem também porque, na verdade, as operações de seguridade, asset etc., são tradicionais, a digital é uma inovação total. Quem precifica melhor isso? Muito melhor lá fora do que aqui.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.