Por Robin Pomeroy
CANNES, França (Reuters) - Os cinemas da França estão certos de vetar a participação da Netflix no Festival de Cannes, disse o diretor do evento nesta terça-feira, véspera do início do festival que neste ano está sendo marcado por uma batalha entre salas de exibição e a gigante norte-americana de produções para a internet.
A Netflix, que disponibiliza filmes e programas de televisão somente a assinantes, tem dois dos filmes mais comentados concorrendo à Palma de Ouro -- sua primeira vez na competição do festival que os franceses alardeiam como o maior do mundo.
Mas em um país no qual os filmes que estreiam nos cinemas não podem ser exibidos em streaming durante três anos, a Netflix se recusou a distribuir seus títulos, o que significa que "Okja", estrelado por Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal, e "The Meyerowitz Stories", com Ben Stiller e Dustin Hoffman, não serão vistos na telona depois de sua estreia em Cannes.
A revolta dos cinemas franceses foi tamanha que surgiram rumores de que os dois filmes seriam excluídos de última hora.
Isso não aconteceu, mas o festival endureceu as regras para que, no futuro, qualquer filme na competição tenha que ser posto em cartaz -- o que na prática impede a Netflix de participar a partir do ano que vem.
"Cannes é um festival de filmes nos cinemas, e, no território francês, gostaríamos de ter todos os filmes competindo em Cannes disponíveis nos cinemas", disse o diretor do festival, Thierry Frémaux, à Reuters, em uma entrevista.
"A Netflix decidiu começar primeiro na internet, por isso os cinemas franceses protestaram, e eles têm razão, porque o cinema é, em primeiro lugar, as salas".
A Netflix não respondeu a pedidos de comentário, mas seu diretor-executivo, Reed Hastings, escreveu em sua página de Facebook: "establishment cerrando fileiras contra nós".
Ele acrescentou que "Okja" é "um filme incrível que as redes de cinemas querem nos impedir de inscrever na competição do festival de Cannes".
Frémaux disse que os títulos da Netflix entraram na lista final --apesar do modelo de negócios conhecido da empresa-- por seu mérito artístico, "dirigidos por dois diretores que são dois caras de cinema de verdade": o coreano Bong Joon-ho e o norte-americano Noah Baumbach.
Quando indagado se Cannes corre o risco de ignorar novas formas de cinematografia, Frémaux respondeu que quer conversar sobre os filmes, não sobre o "caso Netflix", que vem dominando as manchetes.
"O festival está sempre mudando e é sempre o mesmo", disse.