Por Byron Kaye
SYDNEY (Reuters) - O Facebook enfrentou uma reação furiosa nesta quinta-feira após ter bloqueado feeds de notícias na Austrália em uma escalada surpresa na disputa com o governo que pode ser um teste para o futuro da mídia online em todo o mundo.
A mudança foi denunciada por grupos de mídia, políticos e grupos de direitos humanos na Austrália, quando ficou claro que as páginas oficiais de saúde e avisos de emergência foram apagadas junto com sites de notícias, apenas três dias antes do lançamento de um programa de vacinação Covid-19 no país.
"As ações do Facebook, cortando serviços de informação essenciais sobre saúde e serviços de emergência, foram tão arrogantes quanto decepcionantes", escreveu o primeiro-ministro, Scott Morrison, em sua própria página na rede social.
"Essas ações só vão confirmar as preocupações que um número cada vez maior de países está expressando sobre o comportamento das grandes empresas de tecnologia que pensam ser maiores do que os governos e que as regras não deveriam se aplicar a elas."
A disputa gira em torno de uma lei australiana, que exigirá que Facebook e Google (NASDAQ:GOOGL) paguem aos veículos de notícias pelo conteúdo disponibilizado por links que direcionam o tráfego de audiência para suas plataformas ou acertam preço por arbitragem.
Embora a Austrália seja um mercado pequeno, a lei está sendo observada de perto por reguladores em todo o mundo e pode servir de teste para um impulso global para forçar gigantes da internet a dividirem mais de suas receitas com criadores de conteúdo.
Editores de notícias fora da Austrália citaram as táticas do Facebook como evidência de que a empresa, dona do Instagram e do WhatsApp, pode não ser confiável.
Banir notícias durante uma pandemia global foi "um exemplo clássico de poder de monopólio, como o valentão do pátio da escola que tenta proteger sua posição dominante, com pouca consideração pelos cidadãos e clientes que supostamente atende", disse Henry Faure Walker, presidente da Associação de Mídia de Notícias da Grã-Bretanha.
O Facebook disse que bloqueou uma grande quantidade de páginas porque o projeto de lei não define claramente o que seria conteúdo de notícias. A empresa disse ainda que seu compromisso com o combate à desinformação não mudou e que restaurará as páginas que foram retiradas do ar por engano.
As editoras dizem que plataformas como Google e Facebook acumularam grande parte da receita à medida que a mídia se deslocou para a internet, forçando jornais, revistas e estações de rádio e TV a fecharem redações.
O caso na Austrália representa uma divisão entre o Facebook e o Google, que se uniram durante anos numa campanha contra essas leis. Ambos ameaçaram cancelar serviços na Austrália, mas o Google fechou acordos preventivos com vários meios de comunicação nos últimos dias.
A News Corp foi a última a anunciar um acordo em que receberá pagamentos do Google em troca de fornecimento de conteúdo para o News Showcase na ferramenta de busca.
As páginas do Facebook da Australian Broadcasting, financiada pelo governo ficaram em branco, junto com duas grandes cadeias de jornais metropolitanos da Austrália. Também foram afetadas dezenas de contas de caridade e importantes contas de governos, incluindo aquelas que prestavam consultoria sobre a pandemia do coronavírus e ameaças de incêndio florestal no auge da temporada de verão, embora algumas delas tenham sido restauradas posteriormente. Até a própria página do Facebook foi brevemente retirada do ar.