Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - O Digio, plataforma digital de cartões de crédito do banco CBSS, uma joint venture do Bradesco (SA:BBDC4) e do Banco do Brasil (SA:BBAS3), a ser anunciada oficialmente no mês que vem, estima que vai superar 1 milhão de cartões em 2017, disse uma fonte com conhecimento direto do assunto.
Ainda em fase piloto, o Digio é uma resposta à multiplicação das fintechs, empresas de tecnologia independentes que prestam serviços financeiros. A marca tem mais de 150 mil pedidos de clientes atualmente, afirmou a fonte.
Apoiado no foco do CBSS em consumidores de renda mais baixa, o Digio quer aproveitar a boa aceitação do público para cartões de crédito sem tarifas, especialmente entre jovens em idade universitária que estão sendo bancarizados, para criar uma base robusta logo na saída, acrescentou a fonte que pediu para não ter seu nome revelado.
O banco CBSS também tem sob seu guarda-chuva a bandeira de cartões de benefícios Alelo, o Livelo, além da financeira Movera, de microcrédito.
Inicialmente atuando apenas sob a bandeira Visa --o Nubank opera com a rival Mastercard-- o Digio deve trabalhar com outras marcas, incluindo a Elo, também do BB e Bradesco, além de parceria com o programa de fidelidade de clientes Livelo.
Dado o acesso a recursos dos sócios BB e Bradesco, o Digio tem condições de aprovar um volume maior de pedidos, disseram duas fontes. Comparativamente, o líder desse mercado, o Nubank, tem capacidade financeira mais limitada de crescer porque recebe recursos de dois bancos de pequeno porte cujos nomes não são públicos.
Consultado, o Nubank afirmou já ter cerca de 5,5 milhões de pedidos por seus cartões. A empresa, no entanto, aprova apenas um pequeno percentual dessas solicitações, após análise sobre perfil de crédito.
O Digio nasceu sem a opção de crédito rotativo. Em vez disso, se o cliente quiser financiar parte da fatura, o banco oferece uma linha de parcelamento com taxa fixa de 7,9 por cento ao mês, bem menor do que a taxa média do rotativo praticada pelos bancos, acima de 14 por cento mensais.
Gradualmente, o CBSS vai vender mais produtos atrelados ao Digio, incluindo cartão pré-pago, seguros, capitalização e serviços de assistência técnica, como para telefones celulares defeituosos, afirmaram as fontes, que pediram anonimato.
Criado em 2014 e hoje com 110 funcionários, o CBSS tem uma estrutura independente de BB e Bradesco, que o controlam por meio da holding Elopar. No meio de uma série de lançamentos de produtos - a Livelo estreou em junho -, a meta do banco é operar no azul a partir de 2017, disse uma terceira fonte.
Para o Digio, a meta interna do banco é que o produto seja lucrativo em cerca de quatro anos, disse à Reuters outra fonte com conhecimento do assunto.
Tanto o Digio quanto o CBSS são presididos por Carlos Giovane Neves, experiente executivo da indústria de cartões.
Consultado pela Reuters, o CBSS afirmou que o Digio ainda está em fase piloto e em breve será oficialmente lançado.
Bradesco e BB não se manifestaram.
CAMPO DE TESTES
O lançamento formal da nova plataforma digital de cartão de crédito acontece em meio aos esforços dos grandes bancos brasileiros para enfrentar a rápida multiplicação de fintechs.
O BB criou uma diretoria para desenvolver ideias de empregados para novos serviços com uso de tecnologia. O Itaú Unibanco (SA:ITUB4) montou o Cubo, um espaço para startups em parceria com a Redpoint. Em paralelo, o banco iniciou em 2014 um nicho de agências bancárias puramente digitais. Em março passado, já eram 108 unidades.
O Bradesco, por sua vez, em paralelo ao lançamento do Digio, trabalha na criação de um banco digital próprio, o Next, que pode ser lançado nos próximos meses.
No caso do Digio, a iniciativa é também um experimento, especialmente por chegar sem a opção do crédito rotativo, produto cuja fama de ter uma das taxas mais caras do mercado -chegam a ser de 20 por cento ao mês- tem incomodado os bancos.
Nos últimos meses, o setor financeiro vêm discutindo com o Banco Central alternativas para acabar com essa linha. Uma das motivações para esse movimento são as regras de Basileia III, que entram em vigor em 2019, que exigirão dos bancos volumes maiores de capital para operações consideradas mais arriscadas, incluindo as do rotativo do cartão de crédito.