Por Laila Bassam e Suleiman Al-Khalidi e Tom Perry
ALEPPO/BEIRUTE (Reuters) - Milhares de pessoas foram retiradas nesta quinta-feira do último bastião rebelde em Aleppo, os primeiros a partirem sob um acordo de cessar-fogo que pode terminar com anos de combates pela cidade e marcar uma importante vitória para o presidente sírio, Bashar al-Assad.
Um primeiro comboio de ambulâncias e ônibus com quase mil pessoas deixou a devastada área rebelde de Aleppo, que ficou cercada e foi bombardeada por meses por forças do governo sírio, disse um repórter da Reuters no local.
A TV estatal síria disse mais tarde que dois outros comboios de 15 ônibus cada também deixaram o leste de Aleppo. O segundo havia alcançado a área rebelde de al-Rashideen, disse um insurgente.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha afirmou no fim desta quinta que cerca de 3.000 civis e mais de 40 pessoas feridas, incluindo crianças, já tinham sido retiradas.
Robert Mardini, diretor do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, afirmou à Reuters que não havia ainda um plano claro sobre a retirada dos combatentes rebeldes, que sob os termos do cessar-fogo teriam a permissão para partir para outras áreas fora do controle do governo.
Mulheres choraram em celebração quando os primeiros ônibus passaram por uma área controlada pelo governo, e algumas exibiram a bandeira síria. Assad disse num comunicado por vídeo que a tomada de Aleppo, a sua maior conquista em mais de cinco anos de guerra civil, era um momento histórico.
Uma idosa, reunida com outras numa área sob o domínio do governo para ver o comboio removendo os rebeldes, levantou as mãos para o céu e disse: “Deus nos salve dessa crise e dos militantes. Eles nos trouxeram somente destruição”.
Wissam Zarqa, um professor de inglês na zona rebelde, disse que a maioria das pessoas estavam felizes em partir com segurança, mas afirmou: “Algumas estão deixando a cidade com raiva. Eu vi algumas chorando. Esse é em parte o meu sentimento de certa forma.”
Mais cedo, ambulâncias tentando retirar as pessoas ficaram sob o fogo de combatentes leais ao governo sírio. Três pessoas ficaram feridas, disse um porta-voz do serviço de resgate.
"Milhares de pessoas estão precisando ser retiradas, mas a primeira coisa e a mais urgente são os feridos, os doentes e as crianças, incluindo os órfãos”, disse Jan Egeland, assessor para ajuda humanitária das Nações Unidas.
Staffan de Mistura, o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, declarou que 50 mil pessoas permanecem em território controlado por rebeldes em Aleppo, das quais 10 mil seriam retiradas para a vizinha província de Idlib e o restante iria para distritos da cidade sob o domínio do governo.
Para trás ficam os prédios destruídos e destroços, onde dezenas de milhares moraram até recentemente sob bombardeio intenso, inclusive depois de serviços médicos e de resgate terem sido interrompidos.
O antes vibrante centro econômico foi pulverizado pela guerra que matou mais de 300 mil pessoas, criou a pior crise de refugiados do mundo e permitiu o crescimento do Estado Islâmico.
Os Estados Unidos foram forçados a observar à margem enquanto o governo sírio e os seus aliados, incluindo a Rússia, realizaram uma ofensiva contra os rebeldes, culminando com o cessar-fogo desta semana.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse nesta quinta-feira que o governo sírio realizava “nada menos do que um massacre” em Aleppo, e o responsável das Nações Unidas por ajuda, Stephen O’Brien, vai dar um informe ao Conselho de Segurança sobre a retirada em Aleppo na sexta-feira.