Por Tatiana Ramil
BELO HORIZONTE (Reuters) - A "pane" sofrida pela seleção brasileira contra a Alemanha evidenciou um problema tático no meio-campo ocorrido durante toda a Copa do Mundo, que desestabilizou os jogadores e encerrou a busca do Brasil pelo primeiro título mundial em casa.
Os alemães deram um baile nos brasileiros no Mineirão e venceram por 7 x 1 a semifinal do Mundial, ao trocarem passes no meio-campo com extrema facilidade. Quatro gols em seis minutos na metade do primeiro tempo acabaram com o esquema do técnico Luiz Felipe Scolari, que classificou como "pane" o desempenho do Brasil diante do bombardeio alemão.
Mesmo com um meio-campo que não funcionou durante toda a competição, o treinador brasileiro optou por Bernard no ataque para o lugar de Neymar, em vez de reforçar o meio-campo diante de um time forte, com jogadores do calibre de Schweinsteiger, Kross, Oezil e Khedira.
"A seleção jogou muito mal, os jogadores sentiram muito, mas acho que tudo parte da formação tática errada que iniciou o jogo. Estou atordoado. A maneira como o Brasil jogou, como tomamos os gols, como fomos eliminados. É um dia muito triste para o futebol brasileiro", disse o ex-atacante Ronaldo, que perdeu a artilharia das Copas para o alemão Klose, em comentário na TV.
O problema do meio-campo brasileiro na Copa era mais na armação do que na marcação. Luiz Gustavo fez bem seu papel de proteger os zagueiros, mas Paulinho e Fernandinho, que se revezaram na função de segundo volante, foram irregulares e tinham problemas na saída para o ataque.
Contra a Alemanha, Fernandinho foi mal também na marcação e parecia perdido diante dos toques rápidos dos rivais.
Responsável pela criação de jogadas, Oscar só jogou bem a estreia contra a Croácia, depois disso virou um marcador pelas laterais de campo, assim como Hulk, que correu muito, mas foi ineficiente.
Outra decepção foi Fred. Apesar de a bola ter chegado pouco nele, o atacante ficou muito parado, sempre preso à marcação dos adversários, e foi um dos mais criticados pela torcida.
Após sofrer para ganhar dos croatas com um gol polêmico de pênalti marcado em Fred, o Brasil empatou sem gols com o México e goleou um já eliminado Camarões na primeira fase. Nas oitavas de final escapou da eliminação diante do Chile ao levar uma bola na trave no final da prorrogação e vencer nas penalidades com duas defesas do goleiro Julio Cesar.
NERVOSISMO
A vitória um pouco mais tranquila sobre a Colômbia nas quartas de final não escondeu os problemas do Brasil e neste jogo a equipe ainda sofreu a perda de Neymar, o astro do time, e em quem a seleção apostava para superar os obstáculos.
Sem jogadas articuladas no meio-campo, muitas vezes o Brasil partia para lançamentos muito longos do zagueiro David Luiz e tocava para Neymar na esperança de que o atacante driblasse os rivais e decidisse o jogo.
A dificuldade em campo deixava os atletas desetabilizados. O choro no hino nacional é compreensível, o time jogava em casa e com estádios lotados, mas os problemas nos jogos aparentemente deixavam os atletas apreensivos, a ponto de o capitão Thiago Silva pedir para ser o último a cobrar pênaltis contra os chilenos.
"Não vamos arranjar desculpa sobre isso, sobre Neymar, emoção, hino, o que aconteceu foi que a Alemanha em determinado momento conseguiu impor o ritmo e influenciou negativamente minha equipe, com minutos de transtorno", afirmou na entrevista coletiva o técnico Luiz Felipe Scolari, que tinha afirmado que ganhar em casa era obrigação.
A pressão de jogar em casa parece ter sido grande demais para jogadores jovens e inexperientes em Copa, que formam a base do time brasileiro.
"É uma equipe jovem, com jogadores muito jovens e de muita qualidade. O resultado é tão largo, tão difícil de esquecer, é a maior catástrofe do futebol brasileiro de todos os tempos", decretou o ex-zagueiro e comentarista de TV Ricardo Rocha, campeão mundial em 1994.