Por Trevor Hunnicutt e David Brunnstrom
WASHINGTON/PEQUIM (Reuters) - O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma aposta cuidadosamente orquestrada nesta semana, emitindo uma série de ameaças públicas e privadas a Pequim de que enfrentará consequências se apoiar a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A estratégia foi coroada por uma tensa reunião de sete horas em Roma na segunda-feira entre Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional de Biden, e o principal diplomata da China, Yang Jiechi.
Mas depois de disparar ruidosas ressalvas diplomáticas contra Pequim, autoridades do governo Biden ainda estão debatendo os próximos passos a serem tomados para garantir que a China não ajude a Rússia a evitar sanções ocidentais ou fornecer armas a Moscou à medida que as baixas aumentam na Ucrânia.
Um resultado imediato da reunião de Roma foi uma Pequim mais irritada, que foi combativa nas negociações, disseram pessoas familiarizadas com as interações. Uma pessoa baseada nos EUA informada sobre a reunião descreveu a resposta das autoridades chinesas como "dura" e "ofensiva". Outra disse simplesmente que as negociações não correram bem.
Washington está agora analisando uma série de perguntas não respondidas, incluindo qual patamar a China precisaria cruzar em uma "linha vermelha" em relação à Ucrânia para desencadear uma resposta dos EUA e qual seria exatamente essa resposta, dizem autoridades do governo.
O governo Biden está esperando para ver o que a China faz antes de decidir sobre um curso de ação. "Estaremos observando de perto", disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, na segunda-feira. Uma autoridade graduada dos EUA afirmou que eles analisariam qual apoio militar, econômico ou outro está sendo fornecido à Rússia.
Os Estados Unidos disseram na segunda-feira a aliados da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e vários países asiáticos que a China havia sinalizado sua disposição de fornecer ajuda militar e econômica à Rússia para apoiar sua guerra na Ucrânia.
Sullivan alertou antes das negociações que a China enfrentaria consequências se ajudasse Moscou a evitar sanções abrangentes impostas por causa da Ucrânia.
A China, que anunciou uma parceria estratégica "sem limites" com a Rússia em fevereiro, pode considerar difícil mudar de rumo e recuar depois que uma ameaça se tornou pública, disse Kevin Gallagher, que lidera o Projeto de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston.
"Esta não foi uma boa jogada estratégica", declarou ele. "Assim como os EUA, a China tem um eleitorado doméstico."
He Weiwen, membro sênior do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Renmin de Pequim, disse: "Os EUA têm a intenção de reprimir a China, e o conflito Rússia-Ucrânia fornece uma razão para isso". Ele descreveu as advertências dos EUA como "chantagem".
Fontes do governo Biden e diplomatas em Washington e na Europa dizem que os países ocidentais enviaram advertências privadas a Pequim sobre o apoio da China ao presidente russo, Vladimir Putin, semanas antes da reunião em Roma.
A Rússia negou ter pedido ajuda militar à China, e a China alertou nesta semana sobre "informações falsas", em aparente referência a declarações dos EUA.