DUBAI (Reuters) - Um tribunal da Arábia Saudita condenou oito pessoas à prisão por entre 7 e 20 anos nesta segunda-feira devido ao assassinato em 2018 do jornalista Jamal Khashoggi, de acordo com a mídia estatal.
A condenação vem quatro meses depois de a família do jornalista ter perdoado seus algozes, o que permitiu dispensar o estabelecimento de penas de morte.
O julgamento foi criticado por uma representante das Nações Unidas e por defensores dos direitos humanos, que alegam que os mandantes do crime seguem soltos.
Khashoggi, um crítico do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, foi visto pela última vez no consulado saudita em Istambul em 2 de outubro de 2018, onde ele havia ido buscar documentos para seu iminente casamento.
As acusações apontam que seu corpo teria sido esquartejado e retirado do prédio, mas os restos mortais nunca foram encontrados.
O assassinato causou indignação global e manchou a imagem de reformista buscada pelo príncipe Mohammed, filho do rei Salman e na prática o principal líder do reino.
A mídia estatal informou que cinco pessoas receberam sentenças de prisão por 20 anos, enquanto uma foi condenada a 10 anos e duas pessoas foram sentenciadas por sete anos pelo assassinato.
Nenhum dos condenados teve o nome divulgado.
Após o julgamento, a noiva de Kashoggi disse que os oito presos não foram os únicos responsáveis pela morte do jornalista.
"As autoridades sauditas estão encerrando o caso sem que o mundo saiba a verdade sobre quem foi o responsável pelo assassinato de Jamal", escreveu Hatice Cengiz em nota. "Quem planejou isso, quem ordenou, onde está o corpo dele?", questionou.
Em dezembro, a Justiça havia sentenciado cinco pessoas à morte e três a penas de prisão, afirmando que o crime não foi premeditado, mas cometido "no calor do momento".
Alguns governos do Ocidente, assim como a agência norte-americana CIA, afirmaram anteriormente acreditar que o príncipe Mohammed ordenou o assassinato.
Autoridades sauditas negaram que ele tenha exercido algum papel no crime.
Em maio, a família do jornalista assassinado disse que perdoava os responsáveis pela morte, o que abriu caminho para um alívio das condenações à morte.
Na Arábia Saudita, que carece de um código de sistema legal e segue a lei islâmica, o perdão da família da vítima nesses casos pode permitir um perdão formal e a suspensão da execução.
CRÍTICAS NO EXTERIOR
A relatora especial da ONU para execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, Agnes Callamard, acusou a Arábia Saudita de "zombar da justiça" ao não punir mais funcionários graduados que, segundo ela, estavam por trás do assassinato.
Ela disse no Twitter que o julgamento não foi justo ou transparente e que "a responsabilidade do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman nem mesmo foi abordada".
O vice-diretor da divisão do Oriente Médio e Norte da África da organização Human Rights Watch, Adam Coogle, disse que a condenação de indivíduos "não esconde o fato de que o processo legal saudita protegeu altos funcionários de todo e qualquer escrutínio".
"Como pode o regime ser acusado do homicídio e ao mesmo tempo responsável pelo julgamento?" criticou Yahia Assiri, fundador do grupo de direitos humanos saudita com sede em Londres ALQST.
(Por Yousef Saba)