Por Daniel Ramos
LA PAZ (Reuters) - O presidente da Bolívia, Luis Arce, acusou os seguidores de seu ex-mentor e agora rival, Evo Morales, de estarem por trás da tomada armada de postos militares e de manterem soldados como reféns nesta sexta-feira, aumentando as tensões na já agitada nação andina.
Arce disse que os grupos forçaram a entrada em três postos militares nos arredores da cidade boliviana de Cochabamba, moradia de muitos partidários do ex-presidente Morales, após atirar e lançar dinamite contra a polícia.
Os grupos também invadiram o arsenal de cada posto, disse Arce, referindo-se ao ato como "criminoso" e acusando os agressores de traição.
O Exército boliviano pediu aos responsáveis pela tomada de controle que abandonassem "imediata e pacificamente" cada posto.
Em uma coletiva de imprensa no final desta sexta-feira, Morales pediu diálogo com o governo. Sem assumir a responsabilidade pelo ataque aos postos militares, Morales disse que iniciaria uma greve de fome até o início das negociações entre os dois lados.
"As vidas dos meus instrutores e soldados estão em perigo", alertou um oficial militar não identificado em uma gravação transmitida pela mídia local.
Imagens transmitida pela televisão mostraram uma fileira de soldados uniformizados com as mãos atrás das costas, possivelmente amarrados, cercados por membros do grupo armado.
Arce pediu solidariedade, dizendo que muitos dos soldados eram da classe trabalhadora e indígenas, assim como seus captores.
BLOQUEIOS DE ESTRADAS
No início desta semana, a polícia e os militares tentaram desobstruir um bloqueio de rodovia que já durava semanas -- feito por partidários de Morales -- que estrangulava o tráfego entre Cochabamba e Oruro.
Os manifestantes reagiram lançando dinamite contra eles de colinas próximas, enquanto a polícia usou gás lacrimogêneo.
Seguidores de Morales montaram bloqueios de estradas em meados de outubro em apoio a ele, pressionando para que uma investigação criminal contra o ex-presidente por suposto abuso de um menor seja arquivada. Morales argumentou que a investigação tem motivação política.
Desde então, as interrupções no transporte custaram à já empobrecida economia sul-americana mais de 1,7 bilhão de dólares, disse Arce na quarta-feira.
Os dois líderes esquerdistas, ambos com raízes no partido socialista governista da Bolívia, passaram de aliados próximos a rivais ferrenhos nos últimos meses, enquanto disputam posições antes da eleição presidencial do próximo ano.
(Reportagem de Daniel Ramos e Monica Machicao em La Paz)