Por Tiksa Negeri
ADIS ABEBA (Reuters) - O proeminente ativista etíope Jawar Mohammed pediu calma nesta quinta-feira em meio a protestos que mataram 16 pessoas e desafiam o primeiro-ministro Abiy Ahmed, vencedor do prêmio Nobel, em seu curral eleitoral.
Em discurso a centenas de apoiadores agrupados próximo à sua casa em Adis Abeba, Jawar disse: "Abram as estradas bloqueadas, limpem as cidades de barricadas, cuidem daqueles que foram feridos nos protestos e se reconciliem com aqueles com que brigaram".
Ele manteve um tom de conciliação com o governo, dizendo que "não é hora de matarmos uns aos outros", mas alertou seus apoiadores a continuarem alertas. "Se acalmem", disse à multidão, "mas durmam com um olho aberto".
Pessoas morreram em ao menos quatro cidades desde que confrontos começaram na quarta-feira, disseram autoridades e uma testemunha, após a polícia disparar tiros e gás lacrimogêneo para dissipar manifestações em apoio a Jawar.
Em duas das cidades onde houve casos de violência, Harar e Dodola, moradores disseram que jovens começaram a abrir as estradas na tarde desta quinta-feira, após os comentários de Jawar a seus apoiadores.
"A estrada para Adis Abeba agora está livre", disse uma autoridade regional em Harar. Um morador de Ambo, outro local em que houve violência, disse que manifestantes atenderam o pedido de Jawar para retirar barricadas e voltar para casa, mas a polícia atirou neles. O comissário da polícia do local não respondeu imediatamente um pedido de comentário.
Empreendedor no setor midiático e ativista do grupo étnico Oromo, o maior do país, Jawar organizou protestos que ajudaram a levar Abiy ao poder no ano passado.
Abiy supervisionou rápidas reformas políticas após décadas de governo repressivo, recebendo elogios globais que culminaram na premiação na semana passada do Prêmio Nobel da Paz, após encerrar um conflito de décadas com a vizinha Eritreia.
No entanto, maiores liberdades desencadearam tensões há tempos reprimidas entre grupos étnicos etíopes, conforme líderes locais reivindicam mais recursos para suas próprias regiões. Nesta semana, Abiy acusou figuras da mídia não especificadas de promoverem interesses étnicos acima da unidade nacional.
Jawar, antigo aliado do primeiro-ministro, mobilizou manifestantes do grupo étnico Oromo - o mesmo de Abiy. As manifestações são um teste decisivo para Abiy: se ele recuar, pode fortalecer Jawar e outras figuras regionais. Mas a ampla violencia pode manchar suas reformas.
Uma porta-voz do primeiro-ministro não respondeu pedidos de comentário.