Por Stephanie Nebehay
GENEBRA (Reuters) - O governo deposto do Afeganistão e grupos ativistas pediram ao principal órgão de direitos humanos da ONU, nesta segunda-feira, para investigar relatos de assassinatos seletivos e restrições a mulheres e à liberdade de expressão pelo governo do Taliban.
Os apelos, que surgem no momento em que a União Europeia (UE) se prepara para apresentar um esboço de resolução sobre o Afeganistão, tiveram o apoio do chefe da comissão independente de direitos humanos do país, que afirmou que muitas de suas próprias atividades foram suspensas.
Um esboço de resolução da UE que circulou nesta sessão, visto pela Reuters, condena as execuções e a violência contra manifestantes e meios de comunicação. Se adotada, a ação nomeará um relator especial, mas não um inquérito completo.
"Pedimos aos membros do Conselho, em linha com o mandato do Conselho, que adotem uma resolução nesta sessão atual estabelecendo um mecanismo dedicado e efetivo para monitorar a situação dos direitos humanos no Afeganistão, um dever para a prestação de contas e prevenção", disse Nasir Ahmad Andisha, embaixador do Afeganistão, ainda em funcionamento, ao fórum de Genebra.
Ativistas disseram que um relator especial, especialistas independentes que geralmente têm empregos em tempo integral, não seriam o suficiente.
"Um mero relator especial com alguma assistência (do escritório de direitos da ONU) não é suficiente", disse Ken Roth, diretor executivo da Human Rights Watch, em um painel. "Dada a complexidade do país, um mecanismo investigativo precisa de uma equipe completa, com recursos dedicados e um mandato claro".
Agnes Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional e ex-investigadora da ONU sobre homicídios ilegais, disse que o monitoramento dos direitos humanos é "extraordinariamente importante" agora.
Shaharzad Akbar, presidente da comissão independente de direitos humanos do Afeganistão que fugiu do país, disse que o Taliban realizou assassinatos visando principalmente ex-forças de segurança nacional e alguns cidadãos comuns.
"Eles estão criando um ambiente de medo para todos, inclusive para os defensores dos direitos humanos, ativistas dos direitos das mulheres e jornalistas que ainda estão no país, a maioria deles escondidos", disse ela ao painel.
Autoridades do Taliban na cidade de Herat, no oeste do Afeganistão, mataram quatro supostos sequestradores e penduraram seus corpos em público para dissuadir outros, informou uma autoridade do governo local no sábado.
(Reportagem adicional de Emma Farge)