Por Greg Torode
HONG KONG (Reuters) - Bispos e líderes religiosos chineses informam membros destacados do clero católico de Hong Kong a respeito da visão que o presidente da China, Xi Jinping, tem da religião com "características chinesas" em uma reunião inédita organizada pelo escritório de representação de Pequim na cidade, de acordo com quatro clérigos.
Os clérigos que compareceram ou tomaram conhecimento do encontro de 31 de outubro o descreveram como a ação mais enfática da China em suas tentativas de influenciar a diocese de Hong Kong, que presta contas ao Vaticano e inclui alguns líderes de alto escalão que há tempos defendem a democracia e os direitos humanos no território semiautônomo.
Embora líderes católicos de Hong Kong já tenham se encontrado com suas contrapartes da China continental individualmente, a reunião marcou a primeira vez na qual os dois lados se encontraram formalmente e também a primeira vez na qual autoridades religiosas ligadas a Pequim instigaram tal reunião, disseram os clérigos.
Apesar do simbolismo do conclave, as autoridades continentais e os líderes religiosos evitaram em linhas gerais uma mensagem explicitamente política, disseram.
O encontro, que não foi revelado publicamente, também lança luz sobre o que algumas figuras religiosas, políticos e diplomatas descrevem como o papel crescente do Escritório Central de Ligação do governo chinês em Hong Kong, que representa formalmente a China continental na cidade, mas costuma manter um perfil discreto.
O Escritório de Ligação e autoridades da Administração Estatal de Assuntos Religiosos monitoraram as sessões pelo aplicativo Zoom enquanto três bispos destacados e cerca de 15 outras figuras religiosas da igreja católica oficial da China continental endossada pelo Estado e cerca de 15 membros destacados do clero de Hong Kong participavam do encontro de um dia.
O Vaticano considera Hong Kong uma única diocese, por isso ela tem somente um bispo.
O Escritório de Ligação e a Administração Estatal de Assuntos Religiosos não responderam a pedidos de comentários.
Susanne Ho, porta-voz da Diocese Católica de Hong Kong, disse à Reuters que a diocese "não revela detalhes de reuniões particulares".
O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, não tinha comentários.
(Reportagem adicional de David Stanway, Philip Pullella, James Pomfret, Jessie Pang e Sara Cheng)