Por Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro exonerou o coordenador-geral do Fórum de Mudanças Climáticas, Alfredo Sirkis, depois do organismo ter trabalhado para contornar o posicionamento ambíguo do governo em relação às mudanças climáticas.
O fórum foi criado pelo ex-presidente Michel Temer, em parceria com organizações da sociedade civil, com o objetivo de formular o plano do país para atender aos compromissos assumidos sob o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas.
Sirkis, ex-deputado que se diz “ambientalista militante”, é um dos fundadores do Partido Verde. Na juventude, ele aderiu à luta armada contra a ditadura militar.
À Reuters, Sirkis disse que a medida é um resultado provável da iniciativa do fórum de organizar 12 Estados brasileiros para a criação de um conselho sobre mudanças climáticas, que atuaria de modo independente do governo federal.
Ele reconheceu, contudo, que podem haver muitos outros motivos, uma vez que suas convicções sobre as mudanças climáticas estão em desalinho com o novo governo.
“Para mim não foi absolutamente nenhuma surpresa”, disse ele. “Porque eu sou um ambientalista militante há mais de 30 anos... Eu também estou envolvido politicamente com a luta ambiental.”
A exoneração dele foi publicada no Diário Oficial da União. Oswaldo dos Santos Lucon, assessor da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, foi nomeado para coordenar o fórum.
Sirkis está entre os muitos ativistas e ex-integrantes do governo que têm criticado Bolsonaro pelo que consideram posicionamentos contrários ao meio ambiente.
O governo rebaixou a importância das mudanças climáticas dentro do Ministério do Meio Ambiente, de onde também retirou a política nacional de recursos hídricos e o serviço de proteção das florestas.
Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, têm expressado dúvidas sobre a participação humana nas mudanças climáticas, embora o Brasil tenha mantido sua adesão ao Acordo de Paris.
Sirkis disse ter conhecimento de que sua exoneração foi feita a pedido de Salles. O ministro, por sua vez, disse não ter nada contra Sirkis.
“Para poder colocar o Lucon tinha que ser no lugar do Sirkis... nada pessoal contra ele”, disse o ministro à Reuters, sem dar mais detalhes. O Palácio do Planalto não quis comentar.
Salles tem negado que o governo esteja enfraquecendo as proteções ambientais, afirmando que a reestruturação do ministério tem como objetivo tornar as regulamentações mais eficientes e efetivas.
Lucon disse que vai continuar no trabalho como assessor para mudanças climáticas do governo de São Paulo, ao mesmo tempo em que coordenará o fórum.
"O que posso dizer é que confio nas evidências científicas, nas instituições e na necessidade de esforços conjuntos para o cumprimento dos acordos multilaterais dos quais o Brasil faz parte", disse Lucon.