Por Polina Nikolskaya
MOSCOU (Reuters) - Artur Khomenko, um empresário de Minsk, disse ter sido agredido com socos e cassetetes por policiais que o prenderam na quarta noite de imensos protestos que enfraqueceram o poder do líder de Belarus, Alexander Lukashenko.
Depois, os policiais abaixaram suas calças e ameaçaram estuprá-lo com o cassetete, antes de agredi-lo e obrigá-lo a se ajoelhar algemado com o rosto no chão por quatro horas, afirmou.
Khomenko passou a maior parte da semana seguinte em um hospital de Misnk, com lancinantes dores na cabeça e perda parcial de audição em um dos ouvidos. O hospital recusou-se a comentar.
Os médicos diagnosticaram o empresário com lesão cerebral traumática, concussão e hematomas na cabeça e no corpo, segundo registros médicos vistos pela Reuters.
"Não achei que isso fosse possível na Europa no século 21. Alguns (países) fazem carros sem motorista, preparam-se para enviar naves a Marte, mas lá eles simplesmente mutilam e matam pessoas", disse à Reuters o pai de 47 anos de cinco crianças.
A experiência de Khomenko não é única. Valentin Stefanovich, vice-chefe do grupo de direitos humanos Spring, disse que identificou 500 casos de tortura policial na ex-república soviética desde que Lukashenko venceu uma contestada eleição presidencial em 9 de agosto.
O Ministério do Interior e um Comitê Investigativo do governo não responderam pedidos de comentários sobre as lesões especificas de manifestantes com os quais a Reuters conversou e que alegaram abusos.
Questionado se haveria processos contra a polícia, um porta-voz do Comitê disse que estava analisando com cuidado todas as alegações, mas que ainda não havia identificado nenhum caso de tortura policial que merecesse uma investigação criminal.
Novas queixas ainda estavam sendo feitas, ele acrescentou. O Comitê disse, em 17 de agosto, que 700 pessoas haviam registrado queixas por ferimentos físicos que alegam terem sido impostos enquanto estavam detidas ou sob custódia.
Investigadores de direitos humanos da Organização das Nações Unidas disseram que receberam relatos de centenas de casos de tortura, agressões e maus tratos da polícia de Belarus contra manifestantes anti-governo, exigindo que as autoridades interrompam esse tipo de abuso.
O ministro do Interior, Yuri Karayev, afirmou à emissora estatal de televisão neste domingo que 30 oficiais de segurança ainda estavam no hospital com ferimentos graves.
"Eles falam sobre a crueldade da polícia de Belarus, e eu gostaria de dizer o seguinte: não há polícia em lugar nenhum do mundo que seja mais humana (e) moderada".
REGISTROS MÉDICOS
Os manifestantes acusam Lukashenko de ter fraudado a eleição em que ganhou sua reeleição com ampla vantagem e exigem que ele renuncie, no que se tornou a maior crise do líder em seus 26 anos de governo.
O presidente elogiou o trabalho da polícia. Em 13 de agosto, ele assinou uma ordem que concedeu medalhas por "serviço impecável" a aproximadamente 300 oficiais da lei, incluindo policiais que trabalham em protestos, motoristas de vans e carcereiros.
Em 17 de agosto, ele também disse que alguns manifestantes levados ao centro de detenção de Orkestina, em Minsk, haviam atacado a polícia, mas sem apresentar provas.
A Reuters entrevistou 12 pessoas em Belarus que alegam terem sido vítimas de abuso policial durante suas detenções ou enquanto estavam sob custódia.
Uma análise dos registros médicos de seis delas mostrou uma ampla gama de ferimentos, incluindo hematomas internos e externos, lesões cerebrais traumáticas, concussão, fraturas e um joelho quebrado.
Três médicos do Hospital de Emergências em Minsk, que pediram anonimato, disseram à Reuters que uma pessoa com ferimentos no reto foi tratada ao local.
Dois deles afirmaram que o paciente, cuja identidade não foi divulgada, disse ter sido estuprado com um cassetete. Eles não apresentam os registros médicos do indivíduo.
(Texto de Tom Balmforth)