Por Matthew Green
LONDRES (Reuters) - O mau uso de modelos climáticos pode representar um risco crescente para mercados financeiros ao dar a investidores um falso senso de certeza sobre como os impactos físicos das mudanças climáticas irão se desenrolar, de acordo com autores de um artigo publicado nesta segunda-feira.
Com a projeção do crescimento de ocorrências como ondas de calor, incêndios florestais, tempestades destruidoras, além do aumento do nível do mar enquanto o planeta fica mais quente, empresas estão sob pressão cada vez maior para revelar como as perturbações podem afetar suas atividades.
Mas os autores de um artigo revisado por pares na revista científica "Nature Climate Change" alertam que a intenção de integrar o aquecimento global na tomada de decisões financeiras havia superado os modelos utilizados para simular o clima em "pelo menos uma década".
"Da mesma maneira que um carro de grande prêmio da Fórmula 1 não é o que você usaria para fazer uma visita ao supermercado, os modelos climáticos nunca foram desenvolvidos para oferecer informações específicas sobre riscos financeiros", disse Andy Pitman, um cientista climático da Universidade de Nova Gales do Sul, e um dos autores do estudo.
O uso indevido de modelos climáticos pode levar a consequências não almejadas, como "greenwashing" (ou a indevida apropriação de valores ambientalistas) de alguns investimentos ao minimizar riscos, ou afetando a capacidade de algumas companhias de se endividarem ao exagerarem outros tipos de riscos, disseram os autores.
O problema é que os modelos climáticos existentes foram desenvolvidos para prever mudanças de temperatura ao longo de muitas décadas, em escala global ou continental, enquanto investidores geralmente necessitam de análises para locais específicos em intervalos de tempo muito menores.
Os modelos climáticos também não são pensados para simular eventos climáticos extremos, como tempestades, que podem causar perdas financeiras repentinas.