Por Soyoung Kim
SEUL (Reuters) - O líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, vai cruzar na sexta-feira a fronteira intensamente militarizada de seu país com a Coreia do Sul para a primeira cúpula intercoreana em mais de uma década, num momento em que os antigos inimigos buscam encerrar o conflito de décadas e aliviar tensões sobre o programa de armas nucleares norte-coreano.
A cúpula com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, irá preparar o palco para Kim se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no final de maio ou início de junho, no que será um primeiro encontro sem precedentes entre líderes em exercício dos dois países.
Há alguns meses, Trump e Kim estavam trocando ameaças e insultos, e os rápidos avanços da Coreia do Norte na busca de mísseis nucleares capazes de atingir os EUA geravam temores de um novo conflito na península coreana.
Moon irá receber Kim na linha de demarcação militar às 9h30, no horário local, tornando Kim o primeiro líder norte-coreano a pisar na Coreia do Sul desde a Guerra da Coreia, de 1950 a 1953.
Os dois serão escoltados por guardas de honra da Coreia do Sul para uma cerimônia oficial de boas-vindas antes de começarem diálogos oficiais às 10h30 na Casa da Paz, um prédio sul-coreano dentro do vilarejo fronteiriço de trégua de Panmunjom.
A agência de notícias oficial da Coreia do Norte, KCNA, informou que Kim deixou Pyongyang para a “histórica” cúpula, na qual irá “discutir de coração aberto com Moon Jae-in todas as questões com objetivo de melhorar relações intercoreanas e alcançar paz, prosperidade e reunificação da península coreana”.
Em um gesto inesperado poucos dias antes da cúpula, Kim disse que a Coreia do Norte vai suspender testes nucleares e de mísseis de longo alcance e desmantelar sua única instalação conhecida de testes nucleares.
Mas há ceticismo sobre se Kim está pronto para abandonar o arsenal nuclear que seu país defendeu e desenvolveu por décadas, e que diz ser um meio de intimidação necessário contra invasão dos EUA.
A Coreia do Sul espera que o líder norte-coreano confirme diretamente na sexta-feira seu desejo de desnuclearização “completa” da península.
Os dois vizinhos devem divulgar um comunicado conjunto na sexta-feira – possivelmente chamado de Declaração de Panmunjom – que pode abordar desnuclearização e paz, e uma melhoria nas relações, disseram autoridades sul-coreanas.
A KCNA relatou que Kim irá plantar uma árvore com Moon.
A cúpula de sexta-feira entre as Coreias será a terceira depois que dois ex-líderes sul-coreanos, Kim Dae-jung em 2000 e Roh Moo-hyun em 2007, se reuniram com o falecido pai de Kim Jong Un e seu antecessor, Kim Jong Il, em Pyongyang.
HOSTILIDADES INTERMINÁVEIS
A empobrecida Coreia do Norte e a rica e democrática Coreia do Sul ainda estão tecnicamente em guerra, uma vez que a Guerra da Coreia terminou em uma trégua, e não em tratado de paz.
Os Estados Unidos possuem 28.500 soldados na Coreia do Sul como um legado do conflito da Guerra Fria, que colocou a Coreia do Sul, os EUA e forças da Organização das Nações Unidas contra a comunista Coreia do Norte, apoiada pela China e pela Rússia.
Nesta quinta-feira, Trump disse estar considerando três ou quatro datas e até cinco locais para seu encontro com Kim Jong Un, embora tenha acrescentado mais uma vez que ainda é incerto se o encontro irá acontecer.
Trump disse esperar se encontrar com Kim em maio ou junho, mas alertou diversas vezes que o encontro pode ser cancelado caso pense que pode não gerar os resultados desejados.
“Pode ser que eu saia rapidamente – com respeito – mas... pode ser que o encontro até mesmo não aconteça”, disse Trump à Fox News por telefone.
A Casa Branca mais tarde divulgou duas fotografias do então indicado a secretário de Estado, Mike Pompeo, se encontrando com Kim na Coreia do Norte no feriado de Páscoa para discutir a cúpula planejada. Este foi o primeiro encontro conhecido de Kim com uma autoridade norte-americana.
As fotografias mostram Kim e Pompeo, que foi confirmado como secretário de Estado nesta quinta-feira, apertando as mãos.
(Reportagem de Soyoung Kim, em Seul; Reportagem adicional de David Brunnstrom, Susan Heavey e Eric Beech, em Washington)