Por Angus McDowall
RIAD (Reuters) - Desde a execução de quatro muçulmanos xiitas no sábado na Arábia Saudita, centenas ou mesmo milhares de integrantes dessa minoria sectária marcharam em protestos noturnos no país, e seu descontentamento pode abrir caminho para uma crise mais ampla.
A execução de um dos prisioneiros xiitas, o clérigo dissidente Nimr al-Nimr, provocou um impasse internacional, com respostas furiosas da população xiita no Irã e em seus países aliados, mas causou também descontentamento internamente no distrito de Qatif, onde muitos consideraram a execução injustificada.
"As pessoas estão com raiva. E eles estão surpresos, porque houve sinalizações positivas nos últimos meses de que as execuções não ocorreriam. As pessoas ouviam a seus discursos, e não há nenhuma prova direta de que ele estava sendo violento", disse um líder comunitário de Qatif por telefone.
Os protestos em Qatif, distrito com cerca de 1 milhão de habitantes quase inteiramente xiitas na Província Leste do país exportador de petróleo, tem sido em grande parte pacíficos, embora uma morte a tiros e um ataque com armas contra veículos blindados tenham sido registrados.
Qatif está localizado próximo a grandes instalações petrolíferas, e muitos de seus moradores trabalham para a petroleira estatal, a Saudi Aramco. Os protestos no passado não provocaram ataques contra a indústria petrolífera, mas um ônibus usado pela Aramco para transportar empregados foi incendiado depois de um protesto na terça-feira à noite.
Filmagens de pessoas em passeata gritando "abaixo os Al Saud" e outros slogans contrários ao governo, corroboradas por testemunhas contatadas pela Reuters, circulam pelas redes sociais junto com vídeos que mostram tiros sendo disparados contra veículos blindados.
"Eu não ouvi os tiros ontem à noite, mas escutei muitos nas duas noites anteriores", disse à Reuters pelo telefone um morador da vila em que Nimr vivia, Al Awamiya. Assim como as outras pessoas com as quais a Reuters conversou, ele pediu para não ter seu nome revelado.
A Arábia Saudita concede acesso para a mídia internacional a Qatif somente com a companhia de representantes do governo, o que justifica como sendo necessário para garantir a segurança dos jornalistas.