Por Steve Holland e Jeff Mason
WASHINGTON (Reuters) - Questionado sobre o lançamento de um inquérito de impeachment sobre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pelos republicanos no Congresso, o senador democrata da Pensilvânia John Fetterman segurou a cabeça fingindo horror e declarou: "Ó, meu Deus, é mesmo?" antes de cair na gargalhada.
“Uuuu... não façam isso!”, disse Fetterman em tom de gozação na terça-feira, enquanto se afastava.
Os democratas estão tentando ridicularizar a decisão do presidente republicano da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, de iniciar o inquérito, chamando-o de "absurdo", "uma piada" e um "objeto novo e brilhante para distrair o público do fato de que o Partido Republicano pode nem sequer aprovar projetos de lei para financiar o governo".
Mas o inquérito pode lançar uma longa sombra sobre a campanha presidencial de 2024, enquanto Biden concorre à reeleição – mesmo que o processo não consiga apresentar qualquer prova concreta de irregularidade. O impeachment promete atrair grande atenção da mídia, especialmente dos meios de comunicação conservadores, e desviar a atenção das mensagens da campanha de Biden para 2024 sobre a economia e outras questões.
Durante anos, os republicanos têm acusado Biden de lucrar enquanto era o vice-presidente de Barack Obama, entre 2009 e 2017, com os empreendimentos comerciais estrangeiros de seu filho Hunter Biden. O inquérito de impeachment provavelmente se concentrará no trabalho de Hunter Biden como consultor naquela época, embora os republicanos até agora não tenham fornecido evidências de irregularidades por parte do presidente.
A Casa Branca nega qualquer impropriedade, chamando o movimento pelo impeachment de “política extrema no seu pior”.
A Constituição dos EUA autoriza o Congresso a acusar funcionários federais, incluindo o presidente, por traição, suborno e "outros crimes graves e contravenções". Um presidente pode ser destituído do cargo se a Câmara aprovar artigos de impeachment por maioria simples e o Senado aprovar por maioria de dois terços a condenação, após a realização de um julgamento.
Embora os republicanos controlem a Câmara, os democratas detêm a maioria no Senado, tornando altamente improvável uma condenação.
O ex-presidente Donald Trump sofreu duas vezes impeachment pela Câmara então liderada pelos democratas, mas foi posteriormente absolvido pelo Senado. Ele é o claro favorito à indicação republicana para enfrentar Biden no próximo ano, e tem pressionado seus aliados no Congresso para que seu rival sofra um impeachment.
"Sério problema político"
“Isto tem o potencial de ser o início de um sério problema político, e de um problema jurídico devastador”, disse Hogan Gidley, um ex-funcionário da Casa Branca no governo de Trump. “Esperamos que iniciar um inquérito de impeachment forçará a mídia a cobrir as montanhas de evidências que ligam Joe Biden aos negócios de Hunter de uma forma que o povo americano ainda não viu.”
A Casa Branca e os parlamentares democratas têm dito que não existem tais provas e salientaram que Trump foi acusado em quatro processos criminais este ano, com julgamentos iminentes, mesmo quando ele faz campanha para reconquistar a Presidência.
O inquérito de impeachment está se desenrolando ao mesmo tempo em que um procurador especial indicado pelo procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, que é nomeado por Biden, está investigando o filho do presidente depois que as negociações para retomar um acordo de confissão de Hunter Biden sobre impostos e acusações sobre armas fracassaram.
Os índices de aprovação pública de Biden são fracos, embora a última pesquisa de acompanhamento Reuters-Ipsos tenha revelado que o número subiu para 42%, o nível mais alto desde março. A taxa está ligeiramente acima de Trump e Obama nesta fase de seus governos, mostraram dados do Gallup.
Outras pesquisas mostraram que muitos norte-americanos acreditam que a família Biden é corrupta, mas que menos da metade acredita que o presidente fez algo ilegal.
McCarthy garantiu a Presidência da Câmara em janeiro, depois de sobreviver a uma revolta de parlamentares republicanos de extrema-direita. Ele estava sendo pressionado por eles para iniciar o inquérito de impeachment.
McCarthy fez isso na terça-feira sem votação na Câmara. Não ficou claro se ele teria tido apoio suficiente para vencer tal votação, considerando a estreita maioria republicana de 222 a 212 na Câmara.
A Casa Branca divulgou uma lista de comentários de membros republicanos da Câmara dizendo que não foram encontradas evidências de que Biden tenha feito algo errado. Também divulgou uma citação anterior de McCarthy na qual ele dizia que seria necessária uma votação antes de um inquérito de impeachment, caso contrário "criaria um processo completamente desprovido de qualquer mérito ou legitimidade".
McCarthy disse que os republicanos encontraram evidências de telefonemas, transferências de dinheiro e outras atividades que “pintam um quadro de uma cultura de corrupção” na família de Biden. Ele não citou nenhuma evidência de má conduta de Joe Biden.
Nesta quarta-feira, a Casa Branca pediu às organizações noticiosas que se concentrem nos fatos e não nas acusações, afirmando que as alegações dos republicanos eram ilegítimas e que as notícias que se centram nessas alegações "só servem para gerar confusão... e obscurecer a verdade".
(Reportagem de Jeff Mason e Steve Holland)