Por Luke Baker
JERUSALÉM (Reuters) - À medida que a poeira assenta em uma eleição dramática, as questões imediatas são entender como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu conseguiu dar a volta por cima, por que a oposição ficou aquém e o que isso significa para Israel, os palestinos e o mundo.
Quatro dias antes da votação Netanyahu parecia quase abatido com as últimas pesquisas de intenção de voto, que davam à centro-esquerdista União Sionista uma vantagem de quatro cadeiras - o suficiente não só para vencer a eleição, mas para formar uma potencial coalizão de governo.
Mesmo Netanyahu, ativista veterano que vencera antes três eleições, parecia pensar que seus dias estavam contados, dizendo que havia um "perigo real" de que perderia e invocando sua base na direita para virar o jogo.
Mas, depois de três dias de campanha –e, no dia do próprio voto– "Bibi" fez uma grande ofensiva, dando mais entrevistas do que em muitos anos e fazendo uma série de promessas de cunho direitista destinadas a atrair eleitores nacionalistas.
Ele visitou o assentamento de Har Homa, na Cisjordânia, cuja construção foi autorizada quando era primeiro-ministro, em 1997, prometeu continuar a construir casas para a população judaica nos territórios árabes ocupados por Israel na guerra de 1967, e que os palestinos reivindicam para seu Estado, e reconheceu que o assentamento foi projetado para isolar os palestinos de Jerusalém.
Em uma entrevista no mesmo dia ele prometeu que, se fosse reeleito, não permitiria o estabelecimento de um Estado palestino, uma declaração que se contrapunha a seus próprios compromissos passados e décadas de esforços internacionais para encontrar uma solução para o conflito com base na criação de dois Estados.
Em todas as oportunidades, Netanyahu disse que seu partido, o Likud, se arriscava a perder e instigou o medo do que significaria para a segurança dos israelenses e a propagação da militância islamista, se a centro-esquerda conseguisse a vitória.
Na terça-feira –enquanto a votação estava em andamento- Netanyahu protestou contra o que chamou de "organizações de esquerda" que, segundo ele, tinham levado árabes-israelenses em ônibus às urnas, em um esforço para reforçar a centro-esquerda e derrubá-lo do cargo.
Para muitos israelenses seus comentários pareceram ser devaneios de alguém que enfrenta a derrota após seis anos consecutivos no poder, mas eles foram cuidadosamente calibrados para estimular o voto da direita e da extrema-direita e prejudicar a centro-esquerda.
"As cadeiras trocaram de mãos na blocos de centro-esquerda e de direita, mas de resto nada mudou realmente", comentou Gideon Rahat, professor de ciência política na Universidade Hebraica.
Com efeito, Netanyahu conseguiu tirar votos de seus aliados à direita –do partido Lar Judaica, de Naftali Bennett, ligado aos colonos, e do ultranacionalista Yisrael Beitenu, de Avigdor Lieberman – e assim garantiu que o Likud ficasse com a maioria.
O apoio a Lieberman e Bennett caiu, mas eles ainda têm oito e seis cadeiras, respectivamente, uma representação na qual Netanyahu se apoiará para formar uma coalizão.
Moshe Kahlon, líder do partido Kulanu, uma dissidência do Likud, emergiu como o "fiel da balança" da eleição, alguém que Netanyahu agora vai tentar atrair para o governo.
Quando se trata de a União Sionista, parece que o líder Isaac Herzog fez, na maioria, as coisas certas. Sua campanha de tom socialista, focada na economia, atraiu eleitores e os 24 assentos que conquistou estão em linha com as previsões das pesquisas de opinião e acima do que conseguiu em 2013.
Mas ele não tinha nada extra para oferecer aos partidários do Likud, e o medo dos riscos à segurança de Israel, que Netanyahu explorou, pode ter feito com que centristas indecisos preferissem votar no que já conheciam em vez de arriscar algo novo.
(Reportagem de Anna Willard)