Por Stephanie Nebehay e Dawit Endeshaw
GENEBRA/ADIS ABEBA (Reuters) - Todos os lados envolvidos na guerra em Tigré, região do norte da Etiópia, cometeram violações que podem equivaler a crimes de guerra, de acordo com uma investigação conjunta da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Etiópia publicada nesta quarta-feira.
O relatório acusa todos os lados de torturarem e matarem civis, realizar estupros coletivos e fazer prisões com base na etnia.
Ele foi divulgado um dia depois de a Etiópia declarar um estado de emergência. Na segunda-feira, forças de Tigré disseram que podem entrar na capital para depor o governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed.
A investigação foi realizada pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas (Acnur) e pela Comissão Etíope de Direitos Humanos designada pelo governo.
Ela cobriu o período de novembro passado a julho do conflito de um ano, no qual as forças de Tigré se opõem a militares etíopes e seus aliados, forças da região de Amhara e soldados da vizinha Eritreia.
"Temos motivos razoáveis para acreditar que, durante este período, todos os lados do conflito de Tigré cometeram violações de direitos humanos internacionais, humanitárias e da lei de refugiados. Algumas destas podem equivaler a crimes de guerra e crimes contra a humanidade", disse Michelle Bachelet, a alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas.
O Acnur não determinou a proporção de delitos de cada lado, dizendo que os investigadores não conseguiram elaborar uma lista abrangente.
Bachelet disse que a maioria das violações do período analisado pelo relatório foram cometidas por forças etíopes e eritreias, mas que desde então se viu um aumento de relatos de forças de Tigré, além de abusos constantes de forças etíopes e eritreias.
"As forças eritreias foram as principais responsáveis por violações de direitos humanos", disse Bachelet.
Não ficou claro se as conclusões do relatório poderiam formar a base de um processo. Etiópia e Eritrea não são membros do Tribunal Penal Internacional (TPI), portanto a corte não tem jurisdição sobre o conflito.
O relatório se baseou em 269 entrevistas, a maioria contendo detalhes explícitos de estupros e mutilações cometidos por soldados da Eritreia em bases militares.
Abiy disse que aceita o relatório, apesar de algumas "reservas sérias", e que o documento não acusou o governo de genocídio ou de usar alimentos como chantagem. Ele ainda disse que uma força-tarefa civil-militar será criada para investigar todas as alegações no documento.
(Reportagem adicional de Maggie Fick e Katharine Houreld)