(Reuters) - A escritora premiada com o Nobel, Svetlana Alexievich acusou as autoridades de Belarus de aterrorizarem seu próprio povo nesta quarta-feira depois que outro político de oposição foi detido por homens mascarados à paisana.
Maxim Znak foi a vítima mais recente de uma campanha sistemática do governo do presidente Alexander Lukashenko para deter os líderes de um movimento de protesto em massa de um mês.
"O que está acontecendo é terror contra o povo", disse Alexievich, que convocou apoiadores à sua casa depois de ser assediada por telefonemas insistentes de números desconhecidos e por estranhos que batiam à sua porta.
"Temos que nos unir e não desistir de nossas intenções. Existe o perigo de perdermos o país", disse ela.
Como demonstração de solidariedade a Alexievich, que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 2015, diplomatas de vários países europeus iriam se unir à autora em seu apartamento.
Znak foi detido dois dias depois de outra líder opositora, Maria Kolesnikova, ser levada em plena rua por homens mascarados. Ambos são figuras proeminentes dos protestos nos quais se exige a renúncia de Lukashenko após a eleição presidencial de 9 de agosto, que a oposição disse ter sido manipulada. Lukashenko nega uma fraude eleitoral.
Znak e Alexievich eram os últimos membros do Conselho de Coordenação opositor ainda ativo dentro de Belarus.
Os demais fugiram, foram forçados a ir ao exterior ou detidos durante uma repressão das forças de segurança de Lukashenko, que quer se manter no poder depois de 26 anos. O Ministério do Interior disse que mais 121 manifestantes foram presos em todo o país na terça-feira.
Lukashenko acusa países ocidentais de interferência por apoiarem a oposição. Linas Linkevicius, ministro das Relações Exteriores da Lituânia, disse à Reuters que diplomatas foram ao apartamento de Alexievich para monitorar a situação, "e de uma certa maneira são a defesa, porque é mais difícil recorrer a métodos brutais quando existe pessoal diplomático ao redor".
"Eles são visitantes da cidadã Alexievich, a seu convite", explicou. "Ela é uma cidadã, tem um apartamento, e há convidados no apartamento."
Segundo citações de agências de notícias russas, Lukashenko disse que não há o que debater com a oposição. Ele aventou a possibilidade de uma reforma constitucional e uma nova eleição presidencial --sugestões que já havia feito--, mas disse ser cedo demais para dizer quando isso poderia acontecer.
O líder de 66 anos mantém o apoio do presidente russo, Vladimir Putin. Até agora, o Ocidente vem se mantendo cauteloso diante da perspectiva de provocar uma intervenção da Rússia, mas a União Europeia está elaborando uma lista de indivíduos para visar com sanções.
(Por Maria Kiselyova, Alexander Marrow e Matthias Williams)