SÃO PAULO (Reuters) - Trabalho de estreia do diretor Mark Williams, “Um Homem de Família” parece temer deixar de fora algum dos inúmeros clichês que normalmente atolam dramas familiares e também os ambientados no ambiente corporativo. Williams simplesmente alinha todos, o que tira um pouco do charme do filme, com elenco liderado pelo escocês Gerard Butler.
Ele é Dane Jensen, um dos mais aguerridos head hunters de uma firma de Chicago. Encarna aquele tipo de executivo feroz, que invade o espaço alheio e não poupa nenhum esforço para fechar mais um contrato. O problema é que isso está consumindo todo o seu tempo, inclusive noites e fins de semana, tornando rara e difícil sua convivência com a mulher, Elise (Gretchen Mol), e três filhos ainda crianças.
Acostumado a interpretar heróis de filmes de ação, como “300” (2006) e “Invasão a Londres” (2016), Butler tira de letra este papel. Mas acontece que o roteiro, escrito por Bill Dubuque, empenha-se numa virada moral do protagonista, carregada de tantos lugares-comuns sobre a relação entre homens e mulheres que se parece estar num filme dos anos 1950. Dane é o protótipo do macho alfa e provedor, enquanto a mulher é o modelo de dona de casa que deixou tudo na vida para ser esposa e mãe e vive cobrando a conta.
Quando entra em cena a doença grave do filho mais velho, o menino Ryan (Max Jenkins), os chavões só pioram.
O foco está na divisão da energia de Dane entre concorrer a um cargo de chefia – tendo, para isso, que encarar dois tubarões corporativos, seu patrão, Ed (Willem Dafoe), e a colega concorrente, Lynn (Alison Brie) – e a necessidade de dedicar-se mais ao filho doente.
A humanização do workaholic é também promovida por um relacionamento extemporâneo – e que parece muito inverossímil - com um engenheiro desempregado de 59 anos (Alfred Molina). Super-qualificado mas tido como velho demais, Dane não consegue empregá-lo. Mas é este homem, sempre falando pelo telefone com ele, quem inverte a relação de poder e termina sendo um inesperado apoio à sua transformação. Como em qualquer filme de Hollywood, aos clichês somam-se as soluções quase mágicas.
Um ponto baixíssimo e preconceituoso nos diálogos acontece quando Ed diz que não se casa porque prefere a companhia de mulheres como “uma brasileira que cobra US$ 5.000”, vendo-se na tela, a seguir, a imagem de uma morena cuja profissão ninguém tem dificuldade de identificar.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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