SÃO PAULO (Reuters) - Aos 73 anos recém-completados, Stephen Hawking é um fenômeno. Misto de cientista sério com celebridade, autor de bestsellers como "Uma Breve História do Tempo", uma mente brilhante aprisionada num corpo travado pelos efeitos da esclerose lateral amiotrófica.
Já retratado em documentários, o autor inglês está no centro de uma cinebiografia, "A Teoria de Tudo", que adapta as memórias de sua primeira mulher, Jane Wilde Hawking, e coloca em primeiro plano o homem, antes do intelectual, e o longo relacionamento dos dois.
O filme dirigido por James Marsh (vencedor do Oscar em 2008 pelo documentário "O Equilibrista") está colecionando prêmios para seu protagonista, o ator inglês Eddie Redmayne ("Sete Dias com Marilyn"), que acaba de tornar-se o favorito ao Oscar deste ano depois de ter conquistado o troféu de melhor intérprete masculino no Sindicato dos Atores dos EUA e o Globo de Ouro.
"A Teoria de Tudo" concorre a outros quatro Oscars: melhor filme, atriz (Felicity Jones), roteiro adaptado e trilha sonora original.
Fosse uma produção de Hollywood, se poderia esperar mais piedade e redenção deste retrato de Hawking, um notório ateu e que, na vida pessoal, mergulhou bem mais nos conflitos e dilemas de qualquer outra pessoa do que se poderia supor.
Evidentemente, o casamento entre Stephen e Jane, que se conheceram na universidade nos anos 1960, tem tudo para fugir ao convencional, a partir de sua própria concretização. Afinal, quando eles se casam, ele já recebeu o terrível diagnóstico de sua doença e uma virtual condenação à morte, uma vez que os médicos previram na época que ele não sobreviveria mais de dois anos. Isto há 50 anos.
Mesmo afetado dramaticamente pelas progressivas perdas motoras de Stephen – que não o impedem de ter uma vida amorosa, três filhos e até brincar com eles -, o relacionamento se mantém e é o principal foco da história. Uma opção lógica, já que aqui se assume o ponto de vista de Jane.
Se recebeu críticas por essa predominância do aspecto pessoal sobre o científico, é certo que o filme não perde de vista o notável esforço de Hawking em explorar teorias ambiciosas, em torno da origem do universo e do início do tempo. Embora se dê uma ênfase um pouco exagerada à sua falta de fé religiosa, terreno de disputa com a mulher.
Nem por isso a história embarca no moralismo, retratando com admirável franqueza o modo como o casal enfrenta as fissuras do casamento quando entram em cena outras pessoas – como o professor de canto Jonathan (Charlie Cox) e a nova enfermeira, Elaine Mason (Maxine Peake).
Expor estas particularidades do cientista nunca resvala para a vulgaridade. Antes, humaniza sua figura, singularmente bem-humorada, injetando mais realismo neste retrato, certamente parcial.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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