Por Ece Toksabay e Tulay Karadeniz
ANCARA (Reuters) - Eufórico com a recente vitória eleitoral, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, exigiu a mudança na Constituição que deseja há tempos para ampliar seus poderes e prometeu "liquidar" as guerrilhas curdas durante um discurso desafiador que não deu trégua àqueles que buscavam uma conciliação.
Três dias após o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), sigla de raízes islâmicas que ele fundou, surpreender no pleito parlamentar e obter maioria para governar sozinho, Erdogan usou o discurso desta quarta-feira para deixar claro que a ação militar no sudeste de maioria curda não irá terminar tão cedo.
O triunfo eleitoral também o deixou mais próximo de seu sonho de alterar a Constituição turca e consolidar o poder nas mãos da Presidência, uma medida que seus opositores temem permitir que um líder já autoritário governe sem freios.
Figura dominante da política na Turquia, Erdogan atuou como primeiro-ministro durante mais de uma década e foi eleito presidente no ano passado.
Ele ambiciona transformar o cargo que ocupa, que é eminentemente simbólico, no de um executivo-chefe, uma versão turca da Presidência de estilo russo ou norte-americano. Este objetivo foi abalado quando o AKP perdeu sua maioria no legislativo em junho, mas está novamente ao alcance depois do resultado inesperadamente positivo da votação de domingo passado.
Erdogan disse que o atual premiê, Ahmet Davutoglu, irá consultar líderes da oposição sobre a reforma constitucional, e que vai apoiar qualquer decisão parlamentar para a realização de um referendo sobre as mudanças.
"Uma das mensagens mais importantes de 1º de novembro é que a Turquia precisa resolver a questão da nova Constituição o mais cedo possível", afirmou Erdogan em sua fala a centenas de "muhtars", administradores locais geralmente leais ao governo.
"Espero que os partidos de oposição não deixem de contribuir para o trabalho nisso. Se tentarem bloqueá-lo, prestarão contas disso na próxima eleição em quatro anos".
Ele não se referiu diretamente aos poderes presidenciais, mas deixa claro há tempos que são essas as mudanças que busca.
"A presidência executiva é tão importante para o crescimento da Turquia quanto a nova Constituição", declarou o vice-primeiro-ministro turco, Yalcin Akdogan, assessor de longa data de Erdogan, na terça-feira.
"Este é um dos temas dos quais não desistiremos."