Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O papa Francisco expressou otimismo com a melhora dos laços entre o Vaticano e a China, rejeitando as críticas de que a Igreja pode estar subordinando os católicos ao governo comunista de Pequim.
O Vaticano e a China estão em conversas avançadas sobre a nomeação de bispos no país asiático, um dos maiores obstáculos para a retomada dos laços diplomáticos rompidos há quase 70 anos.
"Estamos em um bom momento", disse o papa à Reuters durante entrevista em sua residência no Vaticano.
Os estimados 12 milhões de católicos da China estão divididos entre uma igreja clandestina fiel ao Vaticano e a Associação Católica Patriótica supervisionada pelo Estado.
Durante a entrevista, o papa Francisco não deu detalhes sobre a discussão, mas disse que o diálogo é o melhor caminho.
"O diálogo é um risco, mas prefiro o risco à derrota certa que vem com a falta de diálogo", disse.
"Quanto ao momento, algumas pessoas dizem que é 'o momento chinês'. Eu digo que é o momento de Deus. Vamos seguir em frente serenamente".
Francisco disse que o caminho da reconciliação com a China é dividido em três vias --o diálogo oficial, contatos extraoficiais com cidadãos comuns "que não queremos perder" e o diálogo cultural.
"Acho que o povo chinês merece o Prêmio Nobel da paciência. Eles sabem esperar. O tempo é deles e eles têm séculos de cultura... são um povo sábio, muito sábio. Tenho grande respeito pela China".
Perguntado sobre os comentários, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, disse que seu país é sincero sobre o desejo de melhorar o relacionamento com o Vaticano e que vem fazendo "esforços incessantes".
"Estamos dispostos a encontrar um meio-termo com o Vaticano e fazer novos progressos no processo de melhoria das relações e impulsionar um diálogo bilateral construtivo", disse Geng durante coletiva de imprensa em Pequim nesta quinta-feira, sem dar detalhes.
O crítico mais explícito da estratégia do papa para a China é o cardeal Joseph Zen, ex-bispo de 86 anos de Hong Kong que disse que a direção das negociações leva a crer que o Vaticano está se preparando para dar as costas à igreja clandestina.
Em Hong Kong, um reduto de católicos leais ao Vaticano no sul da China, alguns padres dizem que as conversas podem ser uma armadilha que provocará mais perseguições de fiéis clandestinos e futuramente um controle maior de sua religião por parte do Partido Comunista.
(Reportagem adicional de Michael Martina em Pequim)